Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A Comissão da Verdade ouviu hoje (11) parentes de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar e membros das comissões da verdade instaladas na Câmara Municipal de São Paulo e na Assembleia Legislativa do estado (Alesp).
Segundo o coordenador da comissão, ministro Gilson Dipp, novos encontros serão feitos com instituições que trabalham no resgate da memória. “Esse foi o primeiro contato com esse segmento institucional que vai nos auxiliar de maneira essencial para que os trabalhos atinjam um bom fim”, ressaltou em entrevista. “Nós temos, por força de lei até, poderes para ter esse complemento com entidades universitárias e todas as instituições do Poder Público”, completou, após lembrar que a Universidade de São Paulo (USP) e a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo também têm projetos semelhantes.
Na semana que vem a comissão deverá terminar de elaborar o plano de trabalho. “Nós vamos fazer agora um calendário. Mas todas essas pessoas que vocês conhecem, que são controvertidas, que possam informar, todas elas, na época oportuna, serão ouvidas”, explicou Dipp.
O ministro ressaltou que o grupo já tem um espaço físico para desenvolver as atividades, no Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília e já nomeou quase todos os 14 assessores que auxiliarão nas investigações.
A reunião com os parentes das vítimas da repressão foi importante, segundo a integrante da comissão Maria Rita Kehl, para dar contexto ao trabalho. “Não são coisas que nós desconhecíamos, mas o depoimento direto com emoção de cada pessoa, com a diferença da emoção de cada pessoa, a expectativa, a esperança renovada de cada familiar, nos alimentou muito”.
Para o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão da Verdade da Alesp, a reunião ajudou a determinar qual será o campo de investigação de cada grupo. “Pelo menos agora a gente tem um norte, como se relacionar, qual é o papel de cada um. Acho que é uma coisa importantíssima”.
Carlos Augusto Marighella, filho do ex-guerrilheiro Carlos Marighella, saiu da Bahia a São Paulo para participar da reunião. Para ele, a comissão será uma oportunidade de apresentar a versão sobre a história do pai que ele e a ex-mulher de Marighella, Clara Charf, vem tentando conservar. “A família, eu a Clara, nós temos 40 anos tentando contar essa verdade. Recolhendo documentos, levantando fatos que provam todas essa versões maliciosas ditas contra ele não têm procedência”.
“Ele foi apresentado pela imprensa controlada, manipulada pelos militares, como um terrorista, assaltante de bancos, como uma pessoa até desajustada, entretanto é um grande herói do país”, destacou.
Edição: Rivadavia Severo