Laptops ficam guardados sem uso em escola de Brasília por falta de infraestrutura

30/01/2012 - 8h49

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

 

Brasília – A direção do Centro de Ensino 10 da Ceilândia, cidade da periferia de Brasília (DF), ficou animada quando soube que a escola tinha sido escolhida para participar do programa Um Computador por Aluno (UCA), do governo federal. A expectativa era que os laptops que seriam distribuídos para cada um dos 470 estudantes de ensino fundamental pudessem mudar o dia a dia em sala de aula. Mas o equipamento que tinha potencial para transformar o projeto pedagógico se tornou mero coadjuvante em função das dificuldades estruturais. A internet é muito lenta e não suporta um grande número de acessos simultâneos. Por isso as turmas precisam fazer um “rodízio” e os computadores passam a maior parte do tempo trancados dentro do armário. Em algumas turmas os alunos só usam a máquina uma vez por semana.

Além da internet lenta, outra falha estrutural dificulta a utilização dos laptops: faltam armários nas salas de aula para guardar os equipamentos. No projeto original, cada sala seria equipada com armários específicos para acomodar os computadores. Mas os móveis nunca chegaram e por isso a escola armazena quase metade dos equipamentos recebidos em um armário que fica no laboratório e tem cadeados para garantir que os aparelhos não sejam furtados. Com isso, as máquinas que eram para ser de uso individual são dividas pelas turmas do turno da manhã e da tarde.

“Nós tivemos que fazer algumas adaptações. Como não tínhamos onde guardar, nós pegamos parte dos computadores e deixamos no armário que tem cadeado. No começo todos os dias nós trazíamos do laboratório para a sala de aula e devolvíamos no final, mas a gente perdia muito tempo nesse trânsito. Por isso pelo menos 100 computadores dos 470 que recebemos ficam guardados lá sem uso”, explica a supervisora pedagógica, Cláudia Sousa.

No Distrito Federal, apenas sete escolas foram beneficiadas pelo programa do Ministério da Educação (MEC). À Secretaria de Educação do DF cabia o apoio técnico para que o projeto estivesse em pleno funcionamento. Mas a escola ainda não conseguiu contar com o órgão para resolver simples problemas como o dos armários. Cláudia acredita que as dificuldades impedem que o projeto seja explorado em todo o seu potencial. Segundo ela, a experiência é, às vezes, frustrante – tanto para professores como para alunos.

“Acho que poderia ser muito mais rico. Tem dia que a internet não funciona e às vezes o professor preparou uma aula e sai todo mundo frustrado porque o trabalho não pode ser feito. O professor, na verdade, tem a faca e o queijo na mão porque embora alguns tenham resistência ao uso do computador, os alunos caminham com as próprias pernas. Só que a gente esbarra nos problemas”, diz.

O UCA já está passando por uma segunda fase. Agora, os laptops não são mais distribuídos pelo MEC, mas podem ser adquiridos por prefeituras e governos estaduais, com recursos próprios e a preços reduzidos. O diretor de Formulação de Conteúdos Educacionais da Secretaria de Educação Básica do MEC, Sérgio Gotti, alerta que se não houver a infraestrutura necessária para apoiar o projeto, a compra dos computadores vira “um tiro no pé”.

“A aquisição pelos estados e municípios tem que ser uma escolha muito consciente. Se as escolas não têm estrutura suficiente para suportar, não têm conectividade, ele [o laptop] não vai ser trabalhado dentro de todo o seu potencial. Eles não ficam encostados porque, de alguma forma, são utilizados, mas acaba que você não tem o efeito desejado”, diz.

Mesmo com as dificuldades, Cláudia conta que o impacto do UCA no aprendizado é positivo. Os alunos ficam mais motivados porque têm outra ferramenta à disposição além dos livros e do quadro negro. “No dia do UCA ninguém falta”, diz. Cada professor escolhe como e quantas vezes por semana irá utilizar os laptops – com exceção da internet que segue um cronograma de uso para cada turma. Os alunos fazem pesquisas sobre os conteúdos que estão sendo desenvolvidos em sala ou brincam com os jogos educativos que já vêm instalados na máquina.

“A gente costuma entrar nos jogos ou pesquisar imagens. Mas antes tem que mostrar para a professora porque ela tem medo que a gente entre em site de namoro”, conta a aluna Mariana Santos, 9 anos, aluna do 4° ano do ensino fundamental . “Ele [o computador] é muito lento, o da minha casa é mais rápido. Mesmo assim, a gente queria usar mais na sala de aula”, completa a aluna.

O secretário de modernização e tecnologia da Secretaria de Educação do DF, Luiz Roberto Moselli, avalia que foi um “erro” não garantir a infraestrutura necessária ao projeto na época em que os computadores foram entregues. Segundo ele, o órgão começará em 2012 um projeto para garantir a conectividade em 100% das escolas, com velocidade maior do que atual.

“Estamos fazendo um plano diretor de informática para inserir a tecnologia na educação de forma bastante ambiciosa”, diz. De acordo com ele, o pedido dos armários já foi feito, mas como as peças serão fabricadas sob medida, o CEF 10 da Ceilândia começará o ano letivo ainda sem os móveis, que devem chegar até o fim do primeiro semestre.

 

 

 Edição: Lílian Beraldo