Presidente interino da Argentina só tomará decisões após consultar Cristina, dizem analistas

05/01/2012 - 18h45

Monica Yanakiew
Correspondente da EBC

Buenos Aires – A Presidência da República da Argentina ficará sob comando do economista Amado Boudou, vice-presidente, de 48 anos, por 20 dias. Ontem (4) enquanto a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, era operada para a retirada de um tumor na glândula tireoide, ele se reuniu com a equipe econômica. Porém, os analistas políticos argentinos dizem que Boudou só tomará decisões, depois de consultar Cristina. Ele fica no poder até o dia 24.

“Não houve presidente da República, nos últimos 28 anos de democracia, que acumulou e centralizou tanto poder na Argentina como Cristina Kirchner”, disse à Agência Brasil o diretor do Instituto de Planejamento Estratégico, Jorge Castro.

Castro lembrou que Cristina foi reeleita presidenta em outubro com 54% dos votos, sendo que manteve uma margem de vantagem de 40% em relação a Hermes Binner, segundo colocado nas votações. “Não existe oposição e Boudou não tem peso político próprio. Ele foi eleito vice única e exclusivamente por causa de Cristina. Por isso se limitará a fazer o que ela mandar”.

Boudou foi ministro da economia antes de ser escolhido por Cristina para ser vice-presidente. O cargo de vice-presidente na Argentina é exercido conjuntamente com a Presidência do Senado. Nas horas vagas, ele se dedica às atividades de roqueiro e motoqueiro. Esse perfil ajudou a atrair os votos dos jovens para a reeleição de Cristina.

“Nunca na história da Argentina um vice-presidente assumiu interinamente a Presidência tão rapidamente como agora”, disse à Agência Brasil o analista político Rosendo Fraga. “Mas como Cristina concentra tanto poder nas suas mãos, a doença dela tem um impacto político [maior]”.

No período da sua interinidade, Boudou optou por despachar no seu escritório no Banco Nación e, não na Casa Rosada – a sede do governo argentino. Para os analistas políticos, o comportamento dele confirma que Cristina, mesmo recuperando-se da cirurgia, vai continuar governando.

A presidenta foi reeleita em um momento econômico delicado no cenário interno e também internacional. Um dos principais desafios do governo é o controle da inflação. O índice oficial é 9%, mas consultorias privadas, alguns governos provinciais (estaduais) e entidades sindicais dizem que os preços aumentam entre 25% e 33% ao ano.

A segunda gestão de Cristina promete ser mais difícil do que o período em que seu antecessor, Néstor Kirchner, o marido de Cristina, governou. A presidenta não deve dispor de tantos recursos para distribuir em programas sociais. Por isso, cortou os subsídios à eletricidade, ao gás e ao transporte concedidos na época da crise de 2001.

O governo de Santa Cruz, província que os Kirchner governaram durante décadas, implementou um plano de ajuste fiscal que provocou protestos. “Janeiro deve ser um mês calmo na Argentina, mas já temos sinais de que este ano os conflitos sociais devem aumentar”, disse Fraga.

Em 2003, quando Néstor Kirchner foi eleito presidente, a Argentina foi favorecida pela conjuntura internacional e os altos preços das commodities que contribuíram para o pagamento da moratória da dívida externa do país. Néstor morreu em outubro de 2010, um ano antes da reeleição de Cristina.
 

Edição: Rivadavia Severo