Audiência pública na Câmara discute as causas dos tumultos envolvendo trabalhadores no canteiro de obras da Usina de Jirau

28/06/2011 - 23h42

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Dois meses após o tumulto envolvendo trabalhadores no acampamento da construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), o Ministério Público do Trabalho volta ao canteiro da obra e lavra 212 autos de infração a normas trabalhistas e de segurança, segundo o procurador Francisco José Cruz que participou de audiência pública terminada no início da noite de hoje (28), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.

O diretor institucional do consórcio Energia Sustentável do Brasil, José Lúcio de Arruda Gomes, descartou a hipótese dos tumultos ocorridos entre os dias 15 e 17 de março tenham sido provocados por causa de reclamações trabalhistas. “Aquilo não foi coisa de trabalhador”. Ele declarou à Agência Brasil que “a fagulha [do episódio] foi criminal”, disse ao lembrar que houve tentativa de arrombamento de dez caixas automáticos de bancos existentes no acampamento e o período coincidiu com o pagamento de salários.

Dezessete pessoas envolvidas estão presas pela Polícia Civil de Rondônia, “algumas delas tinham mandado de prisão em outros estados”, disse o diretor que ainda elenca a possibilidade de que possa haver alguma associação entre os supostos criminosos e grupos trabalhistas radicais. Além da Polícia Civil, a Polícia Federal também abriu inquérito para apurar o caso. Segundo o presidente do consórcio Energia Sustentável, Victor Paranhos, os órgãos de segurança institucional do governo federal também acompanham as investigações.

Para o presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores das Indústrias dos Estados de Rondônia e do Acre (Fitrac), Antônio Acácio Amaral, o consórcio tem algum interesse no episódio. “Me mostre uma agulha da Camargo [Corrêa] incendiada”, disse durante a audiência pública. A mesma tese tem o deputado federal Delegado Waldir (PSDB-GO): “nenhum maquinário de grande valor foi queimado”, declarou.

De acordo com o consórcio, 70 alojamentos e 50 ônibus usados pelos trabalhadores foram queimados; além de uma lavanderia, uma farmácia e uma sala de TV existentes no canteiro e carros particulares.

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, descarta interesse por parte da empresa no episódio. Para ele, havia razões para a “revolta popular”, em função das condições de alojamento; dificuldades de acesso ao refeitório; e da diferença de salários e de benefícios. Segundo o procurador Francisco José Cruz, ainda não há como “mensurar o fato específico que originou aquela revolta”, mas sublinha problemas causados pelo grande fluxo populacional na obra e pela terceirização e até “quarteirização” de empresas prestadoras de serviço.

Em março, cerca de 22 mil pessoas trabalhavam na obra, apenas 70 empregados do próprio consórcio. A maioria era da Camargo Correia (responsável pelas obras de construção), da Enesa (montagem da estrutura de instalação das turbinas) e da Toshiba (linha de transmissão). O consórcio Energia Sustentável do Brasil é formado pela franco-suíça GDF-Suez (50,1% do capital); pelas estatais Eletrosul e Chesf (20%, cada) e pela empreiteira Camargo Corrêa (9,9%).

 

Edição: Aécio Amado