Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Em mais um episódio das conturbadas negociações entre o Brasil – maior exportador de carnes do mundo – e a Rússia, a agência russa de saúde animal e vegetal, restringiu temporariamente as exportações de carne de oito plantas brasileiras vistoriadas este mês. A Rússia é maior importador do produto, no mercado brasileiro.
A medida vale a partir de 30 de abril. Além dessas, outras 21 unidades que pleiteavam a habilitação russa foram inspecionadas e não a obtiveram. O relatório russo diz que, ano a ano, os serviços brasileiros pioraram e os problemas sistêmicos aumentaram.
Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos de Oliveira, as autoridades russas desconsideraram explicações e documentos apresentados pelos técnicos brasileiros ao final da missão de vistoria, que comprovam o cumprimento da legislação daquele país.
Além disso, ele disse que chamou a atenção o “tempo recorde” no qual o relatório foi feito e apresentado. “Isso nos leva a crer que esse relatório já estava mais ou menos rascunhado”, afirmou.
Oliveira disse que, na próxima terça-feira (3), o ministério responderá às autoridades russas reforçando garantias dadas anteriormente. Para ele, o tamanho das medidas não corresponde ao tamanho do problema. O ministério, segundo o diretor, garante que não há nenhum problema sanitário. “Houve outra motivação que não sanitária”, afirmou, levantando a possibilidade de questões comerciais terem influenciado o embargo.
Segundo o Ministério da Agricultura, também houve desabilitação da exportação de produtos que não eram comercializados pelos brasileiros para o mercado russo e sequer havia pedido encaminhado desses produtos, o que aumenta a confusão.
O relatório divulgado pela Rússia foi considerado “agressivo e confuso” pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. Assim como o ministério, ele indica algumas confusões geradas com o texto. “Não se sabe se por problema de interpretação ou tradução”.
Uma das dúvidas ainda não sanadas é “se estão retirando o estabelecimento como um todo ou somente a parte de industrializados, o que muda muito”, disse Camargo Neto. Segundo o presidente da Abipecs, a maior parte das exportações brasileiras para a Rússia é composta de carne não industrializada.
Ele acredita que, apesar do mal-entendido, a expectativa é que a questão seja resolvida rapidamente. Uma missão, acompanhando o vice-presidente Michel Temer, em visita a Rússia, em meados de maio, já contaria com técnicos do Ministério da Agricultura, mas será reforçada com o novo episódio. Temer se reunirá com o premiê russo, Vladimir Putin.
As oito plantas que sofreram restrições temporárias estão entre as maiores do país. A lista é composta de três unidades da Sadia, duas da Perdigão, uma da Total Alimentos, uma da Agra, e uma da Maggi.
Edição: Lana Cristina