Luana Lourenço
Enviada Especial
Porto Alegre - A ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a duas reuniõesinternacionais antagônicas – o Fórum Social Mundial e o Fórum Econômicode Davos – na mesma semana não é considerada contraditória peloscriadores do encontro de esquerdas, que começa amanhã (25) em PortoAlegre. “Ele é presidente de milhões de brasileiros, representao país, é natural que seja convidado”, disse um dos idealizadoresdo FSM, Chico Whitaker. Na terça-feira (26), Lula vai receber os movimentos sociais para um “diálogo” sobre seus sete anos de governo e para a comemoração dos dez anos do Fórum Social Mundial. Na quinta-feira (29), receberá em Davos o prêmio de Estadista Global. Descontraído,Oded Grajew, também considerado “pai” do FSM, disse que Davos é umlugar bonito e que recomenda a visita. “Conheço Davos, é um lugarótimo, só não se pode levar adiante as ideias de lá. Acho muito bom irlá, a comida é ótima, os vinhos são bons, só não se pode trazer asideias”, brincou. Whitaker ponderou que em 2001, quando o FórumSocial foi criado como um contraponto à reunião de Davos, o convidadode honra do evento suíço era o ex-presidente argentino Carlos Menem, umdos símbolos da política neoliberal na América Latina. Um ano depois, aeconomia do país quebrou. “Homenagearem o Lula agora é um sinal de queDavos mudou. Mas é difícil esperar que eles admitam que não estavamcertos."Ao contrário da reunião de Davos, que segundo Whitaker, “mais uma vez teráclima de velório”, o Fórum Social Mundial conseguiu propor soluçõespara que alguns países saíssem mais rápido da crise financeirainternacional, caso do Brasil. “O Fórum sempre se advogou pela distribuição de renda, fortalecimento do mercado interno, diversificaçãodas relações internacionais, menos dependência. E isso foi colocado emprática no Brasil e em outros países da América Latina. Não foi porobra do destino ou vontade de Deus que o Brasil tenha se saído melhorda crise, as propostas do Fórum foram seguidas e permitiram recuperaçãomais rápida”, apontou Grajew. Com expectativa de público de 30 mil pessoas até sexta-feira(29), o Fórum Social Mundial vai abrigar cerca de 600 atividades emPorto Alegre e na região metropolitana da capital gaúcha. Naprogramação, nomes conhecidos pelo público do evento, e figurões daesquerda mundial, como o sociólogo português Boaventura de SousaSantos e o geógrafo britânico David Harvey.