Em ilha no Paraná, crianças são alfabetizadas em dois idiomas

19/12/2009 - 14h23

Lúcia Nórcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - Na Ilha da Cotinga, em Paranaguá, 14 criançasestão sendo alfabetizadas em dois idiomas, o português e o guarani. Nolocal, de importância histórica, onde os colonizadoresportugueses fizeram o primeiro contato com os índios Carijó no Paraná,em 1524, vivem atualmente 12 famílias indígenas que sobrevivem da vendade artesanato. A educação na ilha é de responsabilidade do Departamentoda Diversidade da Secretaria de Estado da Educação (Seead). Segundo a coordenadora da área, Cristina Cremoneze, em todo o estado há 35 escolas de educação indígena que atendem aproximadamente3 mil estudantes.O filho do cacique da aldeia, Dionísio Rodrigues, - ouKuaray, seu nome indígena - conta que, antigamente, quando iam para acidade sem estar preparados, os Guarani desistiam de estudar devido aochoque cultural. Segundo ele, na ilha, os professores não apenasensinam, mas também aprendem o jeito de ser e os costumes indígenas.Deacordo com Cristina Cremoneze, as políticas públicas de inclusãopermitem não só a preservação da cultura do povo indígena, mas também orespeito à diversidade. O governo possibilita a formação de professoresindígenas que, após concluírem o curso do magistério, exercem aprofissão nas próprias aldeias.A professora Vânia Lúcia e apedagoga Dinai Raquel contam que chegam à ilha diariamente com apreocupação de "deixar no continente as coisas que são do continente". Egarantem que quem vem trabalhar nas ilhas não quer mais sair porque oenvolvimento é muito grande. A maioria das aulas é dada ao ar livre,aproveitando a riqueza local para fazer o casamento entre conhecimentosuniversais e as tradições do povo indígena.Na escola local, porenquanto, só existem as primeiras quatro séries do ensino fundamental.Kuaray reclama da dificuldade dos alunos em continuar os estudosporque têm que sair da ilha. “Há 200 anos não deixávamos o povo brancoentrar em nossas terras, hoje sabemos o valor do conhecimento, temosque conhecer nossos direitos”, disse em tom de discurso.Na aldeiahá um sentimento forte de autoridade e de organização. Kuaray, porexemplo, proibiu a reportagem da Agência Brasil de fazer fotos efilmar, alegando que essa autorização só poderia ser dada pelo cacique,que não se encontrava no local. “É ele quem dá as ordens”, afirmou.