Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Fósseis de animais gigantes que viveram há milhares de anos naAmazônia viraram enfeites exóticos em casas de ribeirinhos e demoradores de Eirunepé, no sul do Amazonas. Os megafósseis, segundoa paleontóloga Rosemery Silveira, existem de forma vasta nessemunicípio, mas a falta de pesquisas para estudar o cenário nalocalidade e também para orientar os moradores sobre o que issorepresenta, faz com que muitos desses objetos não tenham a devidaimportância histórica reconhecida. “Eles [os moradores]não fazem por maldade. Desconfiam se tratar de um vertebrado porassociar os formatos a ossos de animais conhecidos, mas por causa dadiferença de tamanho, muitos não sabem mesmo do que se trata”, disse.De acordo com Rosemery, que também éresponsável pelo laboratório de Paleontologia da Universidade Federaldo Amazonas (Ufam), são considerados fósseis todo e qualquer vestígiode ser vivo preservado em rocha, ou seja, petrificado, e com idadesuperior a 11 mil anos. Ela afirmou que as peçasjá resgatadas no município possuem de 3 a 23 milhões de anos deidade. Na opinião da especialista, as pesquisas sobre os megafósseis são fundamentais para a identificação dos seres que viveram naAmazônia e em outras regiões do país. Isso poderá contribuir, porexemplo, para entender como se processaram as mudanças climáticas naTerra, a contar do período pré-histórico até os dias atuais.“Comoas rochas do Rio Amazonas são parecidas, é muito provável que osmunicípios vizinhos também tenham o mesmo conteúdo de fósseis. O queestá faltando é uma investigação detalhada dessas áreas”, acrescentouRosemery. O geólogo Fernando Burgos, do Departamento Nacionalde Pesquisa Mineral (DNPM) em Manaus, afirmou que não há em cursonenhum trabalho específico no Amazonas para levantamento de informaçõessobre os sítios paleontológicos. Mesmo assim, ele garante que estudosnessa área estão dentro da programação do DNPM, por orientação dopróprio governo federal, e que a melhor época para essas pesquisasseria entre setembro e outubro, quando o nível dos rios está mais baixo.“Com o rio cheio não dá para ver o material, mas com o rio baixo, fica fácil de observar e coletar esses fósseis”, explicou.Desdeos anos 70, a Ufam estuda os fósseis encontrados na região. Nolaboratório de Paleontologia, em Manaus, podem ser encontradas ossadasde animais pré-históricos, cabeças de jacarés de grande porte e outroselementos que comprovam presença de vida animal na Amazônia há milharesde anos, incluindo estranhos animais, com dimensões impressionantes.Entre os megafósseis encontrados no Amazonas, estão partes dogigantesco Purussaurus, que foi o maior crocodilo que já habitou aAmérica do Sul e podia atingir até 18 metros de comprimento. Estima-seque só na América do Sul, cerca de 46 gêneros de grandes mamíferos tenham se extinguido. As mudanças climáticas estão entre as hipóteses maisprováveis para explicar as extinções desses animais.