Sucessão de Michelle Bachelet no Chile polariza disputa entre esquerda e direita

13/12/2009 - 9h44

Renata Giraldi
Enviada especial
Santiago (Chile) - Nas eleições de hoje (13), a disputa pela sucessão da presidente do Chile, MichelleBachelet, é marcada por um intenso debate sobre questões políticas esociais. Mas a divisão da coligação de esquerda, a Concertación, gerouo surgimento de dois candidatos autônomos e dificuldades para o nomeoficial da aliança – o ex-presidente Eduardo Frei Ruiz, filho deEduardo Frei Montalva (1964-1970) cuja suspeitas de ter sido assassinado por envenenamento vieram à tona nesta semana.    Nosúltimos dias, Frei tentou colar sua imagem à de Bachelet noesforço de atrair votos. Apelou para o apoio dosex-presidentes do partido, obteve garantias dos prefeitos dasprincipais cidades que eles o ajudarão em um eventual segundo turno eprovocou uma discussão sobre a revisão da Lei de Anistia – temadelicado e caro para os chilenos que viveram sob forte ditadura por 17anos. Frei foi presidente no período 1994 a 2000 e deixouo governo com baixa popularidade. A escolha de seu nome como candidatoda Concertación envolve uma série de polêmicas e não obteve consenso.Foi escolhido, segundo integrantes do partido, por ter um perfil mais de centro do que os demais que se apresentaram à disputa dentro da coligação.Pelaspesquisas de opinião, Frei está em segundo lugar na corrida presidencial, atrás do empresário ecandidato da oposição Miguel Sebastián Piñera, da coligação Alianza(centro-direita). Em terceiro, está o independente MarcoEnriquez-Ominami Gumucio e, por último, Jorge Arrate (da aliança JuntosPodemos Mais), ambos da esquerda.   A política interna chilenaé marcada por duas forças políticas: as coligações de centro-esquerda ede centro-direita. Mas um racha na centro-esquerda fez surgir umchamado fator surpresa: o  nome do deputado federal Enriquez-Ominami,de 36 anos, que rompeu com a coligação de Bachelet. Segundo analistas,ele é fruto do  “voto de protesto” ou como os chilenos batizaram “votobronca”. Dissidente da coligação Concertación, Ominami chama aatenção pelo discurso direto, a defesa de mais poder do Estado para asáreas de educação, saúde, transporte e habitação. Contrariando arigidez da sociedade chilena, o candidato é favorável ao debate sobre alegalização da união civil entre pessoas do mesmo sexo e o abortoterapêutico, além de reformas na Constituição.No entanto,analistas políticos afirmam que os chilenos, em tempos de globalizaçãoe apelos econômicos, espelham-se em um empresário bem sucedido, como ocaso do Piñera, da coligação Alianza (conservadora). Nas últimaseleições, ele foi derrotado por Bachelet e se apresenta como como umperfil diferente de seus antecessores.Piñera não é ligado aosmilitares, embora conte com o apoio deles, mas fez campanha contra o aampliação do mandato do ex-presidente e ditador Augusto Pinochet em1989. É um dos homens mais ricosdo país, dono da empresa aérea Lan Chile, da rede de televisão ChileVisión e do time de futebol Colo Colo – que foi campeão na últimasemana ao vencer o Universidade Católica. Últimocolocado, segundo as pesquisas recentes de opinião, Arrate é umaespécie de símbolo da esquerda mais tradicional. Ele atrai oeleitorado intelectual, artistas e defensores do socialismo. Fez uma campanha sem recursos, masocupou espaço na mídia e ganhou simpatizantes. Anunciou que vai apoiarFrei num segundo turno das eleições.