O debate da intolerância na esfera pública

13/11/2009 - 7h47

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - Na sociedade contemporânea a imprensa constitui-se em um dosprincipais espaços para o debate democrático das questões que geram conflitosem seu cotidiano. A intolerância às diferenças é uma dessas questões. Dependendoda qualidade da cobertura da imprensa a sociedade pode ganhar ou perder emtermos de consciência coletiva sobre os preconceitos que cultiva em seu seio. Opoder da imprensa, enquanto instrumento para a formação de opinião, pode tantoajudar a reforça-los quanto   ajudar adestruí-los. A qualidade da informação qualifica o debate e pode ser decisivapara a superação das contradições que levam à hipocrisia coletiva.O fato de uma estudante ter sido quase linchada por seuspares por se vestir e se expressar de maneira diferente do habitual entrou napauta dos principais veículos de comunicação, principalmente depois que a alunafoi expulsa da universidade particular que a condenou por “atitude provocativada aluna, que buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de seexpressar”.  A instituição ignorou nossaConstituição no que tange à liberdade de pensamento e de expressão.  A Agência Brasil apenas entrou no caso 17 dias depoisde ocorrido o fato. O leitor  DanielBrisolara escreveu para esta ouvidoria: ”Será que o assunto da fortehostilidade ocorrida na faculdade UNIBAN contra a aluna Geyse Arruda não seriaum assunto importantíssimo? Visto que revela ainda o machismo, o sexismo de boaparte das pessoas, homens e mulheres. Com a decisão de expulsar a aluna auniversidade acaba por desprezar por completo o texto encaminhado pela ministraNilcea Freire dizendo que nenhuma justificativa: seja ela roupa, provocações,etc; serviria como justificativa para essa barbárie. E foi justamente em cimadisso que os responsáveis pela UNIBAN a expulsaram. Caso claro de sexismoinstitucional.”Até o dia 9 de outubro a ABr publicou cinco matériase quatro notas repercutindo o assunto com especialistas, autoridades, entidadesde classe e ativistas dos direitos humanos. Ao leitor respondemos que“concordamos que é um assunto importante e que foi abordado por diferentesângulos pela Agência Brasil como ele pode constatar com a leitura dasseguintes matérias: (relação dos links de todas as matérias)”.A repercussão na mídia e a reação inicial da sociedade já surtiram os primeiros efeitos pois auniversidade, vendo sua imagem empresarial prejudicada, reviu a decisão deexpulsar a estudante. Esse pode ter sido um primeiro resultado desse debate queainda não se aprofundou nas razões que levaram: a “turba” enfurecida a reagircomo reagiu  e a universidade a punir avítima e a acobertar seus agressores. Dependendo da continuação dessa cobertura e da qualidade dainformação que trouxer para a esfera pública a imprensa poderá proporcionar umaimportante discussão sobre o caso, sobre os direitos envolvidos na questão e sobre as possíveis reações do Estado eda sociedade para superar o preconceito e a intolerância, ou para reafirmá-loscomo valores petrificados. O papel da universidade e suas funções sociais econstitucionais  para com a democracia ea cidadania também precisam ser analisados à luz dos acontecimentos. Para Geyse Arruda, a vítima, conforme designou umadas fontes ouvidas pela ABr, restarão os traumas e a lição por ter ousado. Ofato é que, no Brasil do século XXI, ousar ser diferente ainda pode custarassédio moral, constrangimento, estupro, linchamento ou até mesmo a vida, comono caso do índio Galdino – queimado por jovens da classe média brasiliense porser índio e dormir em praça pública à luz das estrelas. Até quando?

 Até a próxima semana.