Reforçar prevenção com jovens é primordial para conter violência no Brasil, diz pesquisador

23/09/2009 - 18h31

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao participar hoje (23) de audiência pública na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Violência Urbana da Câmara dos Deputados, odiretor de pesquisas do Instituto Sangari, Julio Jacobo Waiselfisz, afirmou queas altas taxas de violência e homicídios registradas entre os jovens de15 a 24 anos exige maior investimento do Poder Público em políticas preventivas. “Osjovens que mais morrem têm baixa escolarização, são negros e pardos.Esses devem ser o foco das políticas públicas. Temos que ter umaestrutura de prevenção. Faz falta reprimir bem, mas só repressão nãobasta  É por aí o caminho [para a redução dos índices]”, disse Jacobo, autor do Mapa da Violência nos Municípios - estudo que analisa amortalidade causada por homicídios, com foco especial nos crimes contrajovens, por acidentes de transporte e por armas de fogo.Opesquisador ressaltou que a prevenção eficiente deve priorizar aescola como mecanismo de inclusão social, com o fortalecimento doensino médio e não o do trabalho. “O ensino médio foi abandonadopraticamente às traças. Poucos chegam a ele e muitos abandonam. OBrasil conseguiu em poucos anos praticamente universalizar o ensinofundamental. Por que não lançamos um campanha para universalizar oensino médio? Hoje não temos esse jovem dentro da escola”, argumentouJacobo. “Jovem de 15 anos não tem que estar empregado. Tem que estarse preparando, se não tende a ter sempreocupações marginais. Hoje a mínima condição que se exige em um trabalhomedianamente decente é o segundo grau [ensino médio, completo]”, acrescentou. Deacordo com dados apresentados pelo pesquisador, dos cerca 35 milhõesde jovens brasileiros, 7 milhões não estudam nem trabalham. Quase50% da população carcerária é composta por jovens e nos estadosviolentos mais de 50% dos homicídios são contra pessoas dessafaixa etária.“Os jovens são os personagens que matam e morrem. São ao mesmo tempo vítimas e algozes”, resumiu Jacobo. Odiagnóstico traçado pelo pesquisador foi aprovado pelo deputado RaulJungmann (PPS -PE), primeiro vice-presidente da CPI. O parlamentarlembrou que a violência urbana demanda ações coordenadas de diversasesferas do Poder Público, com prioridades definidas. “Além dareforma da polícia, da agilidade do Judiciário, do fortalecimento doMP [Ministério Público] e da ampliação do sistema penitenciário, precisamos dar oportunidadeaos nossos jovens. Sem tê-las, eles são vítimas fáceis do crime e dadroga”, disse Jungmann. Outro aspecto abordado na audiênciapública foi a interiorização da violência no Brasil nos últimos anos.O quadro é   decorrente, entre outros fatores, da prioridade doFundo Nacional de Segurança Pública aos investimentos em capitais eregiões metropolitanas violentas, da descentralização do crescimentoeconômico com pólos destacados no interior e da melhoria na captaçãodos dados de mortalidade. Jacobo e Jungmann salientaram que osmunicípios interioranos que lideraram o ranking do Mapa da Violência de2008, último divulgado pelo Instituto Sangari, precisam receberiniciativas específicas para que haja uma reversão de taxas. Apesquisa segmentou esses municípios por estruturas particulares, comoaqueles integrantes do arco do desmatamento, pólos de crescimento nosestados e municípios de fronteira. “Não tem que tirar investimento dasgrandes capitais, mas dar atenção a esses municípios. Trabalhar sobreos focos e não com políticas globais”, defendeu Jacobo. “Ocobertor é curto. A prioridade permanece nas regiões metropolitanasporque, em termos absolutos, elas ainda nos preocupam mais. Mas ficaevidente que precisamos ter uma política de interiorização de programas e projetos na área de segurança pública”, reforçou Jungmann.Napróxima semana, a CPI da Violência Urbana da Câmara dos Deputadosrealizará audiência pública com as presenças do secretário nacional deSegurança Pública, Ricardo Balestreri, e do secretário-geral doPrograma Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci),Ronaldo Teixeira.