Projeto do governo do Rio de Janeiro ataca discriminação a homossexuais nas escolas

08/09/2009 - 16h55

Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Embora não hajalevantamentos oficiais que dimensionem a evasão escolar motivadapela discriminação contra alunos com base em sua sexualidade,profissionais de educação do Rio de Janeiro garantem que em sala deaula o preconceito se revela como um forte fator para que jovensabandonem os estudos e, muitas vezes, deixem de lado sonhos deformação profissional. O governo estadual espera mudar essa realidade por meio de um projeto que pretende capacitar dirigentes de escolas para enfrentar o problema.“Ainda não temosindicadores, mas sabemos que a discriminação na escola é muitoséria e é causa de uma grande evasão. Percebemos que muitos alunosque procuravam a Educação para Jovens e Adultos (EJA) haviamabandonado seus estudos porque não se sentiam à vontade em sala deaula, sendo motivo de chacota e até de agressão física”,explicou a assistente de coordenação de Diversidade Educacional daSecretaria Estadual de Educação do Rio, Sílvia Cruz. “Por isso,começamos a elaborar um programa para mudar essa realidade,principalmente no ensino médio.”Na tentativa dereverter esse quadro, o governo estadual está capacitando diretoresdas escolas de sua rede para lidar com a diversidade nas salas deaula. Por meio do projeto Jornada de Educação e Cidadania LGBT eCombate à Homofobia, que envolve exibição de vídeos e realizaçãode mesas-redondas e debates, esses profissionais recebem orientaçãoespecífica sobre como respeitar as diferentes orientações sexuaisde professores e alunos e estimular a convivência saudável noambiente escolar.Até o fim do ano, ogoverno espera capacitar os diretores das 1.347 unidades estaduaisque oferecem o ensino médio e a Educação para Jovens e Adultos(EJA).O professor FábioCastelano, diretor da Secretaria de Gênero e Combate à Homofobia doSindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), conta queo preconceito é comum não apenas em relação a alunos, mas tambéma docentes homossexuais. “É muito comum ver atos discriminatóriosem sala de aula. Como professor, quando percebo algo nesse sentido,tento fazer um paralelo com outros tipos de preconceito, como oracial. Aí, é mais fácil os alunos entenderem que qualquerdiscriminação, seja por orientação sexual, pela cor ou pelareligiosidade, é absurda.”Castelano é um exemplode quanto o preconceito na escola também faz com que as pessoasescondam sua orientação sexual. Ele disse ter escondido suahomossexualidade durante anos por temer a reação da comunidadeescolar. “Sempre fui um professor muito respeitado e tinha medo deperder essa condição que conquistei com muito trabalho ededicação.”Gilmar Santos,presidente do grupo Conexão G, organização não governamental queatua na defesa dos direitos dos homossexuais em favelas cariocas,afirmou que, além dos prejuízos emocionais provocados pela evasãoescolar em função da discriminação, o abandono dos estudosaumenta as dificuldades dessa parcela da população na hora deconseguir um emprego. “Quando desistem de estudar, ficam semqualificação e encontrar um emprego torna-se muito mais difícil.Dessa forma, muitos acabam caindo na prostituição por nãoencontrarem outra opção para garantir seu pão de cada dia.”Segundo Santos, combase nos atendimentos realizados pela ONG, que incluem orientaçãojurídica, social e psicológica, ocorre pelo menos um caso deagressão física ou verbal contra homossexuais a cada dia.