Crise acabou para o sistema capitalista, mas não para quem perdeu emprego, diz Singer

18/08/2009 - 21h03

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dizer que a crisefinanceira internacional acabou “é uma afirmação bizantina, nomínimo discutível, porque acabou para o sistema capitalista como umtodo, mas não para quem perdeu o emprego ou a casa”, afirmou hoje(18) o secretário nacional de Economia Solidária, do Ministério doTrabalho e Emprego, Paul Singer.Ao participar do 9ºSeminário sobre Perspectivas do Desenvolvimento Brasileiro, cujotema era Crise como Oportunidade, ele disse que a crisefinanceira fez com que todos os países jogassem fora os ensinamentosde ortodoxia econômica, em razão das incertezas geradas pelomercado. O encontro foi promovido pelo Instituto de PesquisaEconômica Aplicada (Ipea).Agora, portanto, comnovo cenário, “podemos dizer que essa crise passou, mas a próximajá está no forno”. Isso porque, segundo ele, as crises sãocíclicas. Mas acredita que qualquer turbulência econômica quevenha, a partir de agora, encontrará cenário mundial diferente,porque “há uma desglobalização em curso, detectada poriniciativas protecionistas de alguns países”.No seu entender, acrise que estourou em setembro do ano passado “já se suavizou,desacelerou lá fora” e no mercado brasileiro a crise já passou,uma vez que a oferta de empregos tem aumentado gradativamente desdefevereiro deste ano, depois de fortes ondas de desemprego no final doano passado, até janeiro último.Singer enfatizou queagora, depois de passada a tormenta, é hora de discutir e darefetividade às oportunidades que as dificuldades apontam,paradoxalmente. “A crise nos oferece a possibilidade de ter outraagenda de prioridades, que já está surgindo. Digo mais: se o Brasiltomar posição pelo futuro da humanidade, poderá fazer a diferençaentre as nações.”O sociólogo SílvioCaccia Bava, do Instituto Pólis, revelou que “a crise financeirabotou mais de 200 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza nomundo”, enquanto os países ricos injetavam bilhões de dólarespara salvar os sistemas financeiros, num cenário mais nefasto do queo crack de 1930, uma vez que os efeitos da crise atingiramtodos os países por causa da globalização.De acordo com osociólogo, o mundo exige mudanças políticas e culturais quecontribuam para a “desconcentração desmesurada de poder dosistema financeiro”. Ele até admite que exista um pouco de utopiana afirmação, mas lembrou o que Singer – ao seu lado na mesa dedebates – havia dito pouco antes: “Sem utopia, não iremos alugar nenhum”.Sílvio Caccia falouainda da necessidade de o Brasil “refundar o Estado republicano edemocrata”, a partir de uma reforma política profunda que amplieos espaços de participação social e descentralize o poder. Alémdisso, acrescentou, “é necessário também maior controle socialdo sistema financeiro, com mais fiscalização sobre entradas esaídas de capitais especulativos”.Esse controle seriaessencial para corrigir “distorções gritantes”, geradas peloconsumo desenfreado, de acordo com o economista Ladislau Dowbor,professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo,que também participou do seminário.Ele mostrou pesquisasegundo a qual são gastos US$ 6 bilhões por ano com educaçãobásica no mundo, equivalentes ao consumo anual de cosméticos nosEstados Unidos. Mostrou ainda que saúde básica e nutriçãoconsomem US$ 13 bilhões por ano no mundo, enquanto os EUA e a Europagastam US$ 17 bilhões com ração para animais de estimação, oJapão gasta US$ 35 bilhões com entretenimento, a Europa queima US$50 bilhões em cigarros e US$ 105 bilhões em álcool, o consumomundial de drogas chega a US$ 400 bilhões e os gastos militaresascendem a US$ 780 bilhões. Tudo isso por ano.