Pesquisador defende benefícios do desmatamento e irrita ambientalistas

20/06/2009 - 15h31

Luana Lourenço*
Enviada Especial
Goiás (GO) - Emuma apresentação que causou polêmica, o pesquisador e ex-diretordo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Eustáquio Reis,defendeu hoje (20) os benefícios do desmatamento e incomodouambientalistas que formavam a plateia de debates do fórum sobre meioambiente, realizado paralelamente às atividades culturais do 11° Festival Internacionalde Cinema Ambiental (Fica). Doutor em economia, Reis começousua apresentação argumentando que não se pode falar em meio ambientesem levar em conta as vantagens econômicas do desmatamento. Segundo opesquisador, na maioria das vezes há relação direta entre devastação eganhos econômicos, como no norte de Mato Grosso, região que enriqueceucom base na produção de soja em larga escala. “O desmatamento não temsó custos. Tem benefícios. É fundamental ter noção dos benefícios”, destacou. “Asestradas são vistas como demônios na Amazônia. Não é assim. Algunsefeitos podem ser minorados. E seria criminoso com os produtores e como país negar oportunidades mais competitivas de transporte”, acrescentou.Opesquisador chegou a ouvir da platéia que sua apresentação era“simplista” e com falhas na análise de gráficos e dados científicos. Reisargumentou que, em nome da garantia de bem-estar das futuras gerações,a sociedade não poderá abrir mão do avanço sobre áreas aindapreservadas para expansão da produção agropecuária. “Não creiam queteremos que abdicar da soja e do gado”, disse. Para ele, aestabilização do desmatamento da Amazônia em cerca de 40% seriarazoável. Atualmente, a área desmatada do bioma é de cerca de 15% dototal. O pesquisador questionou o falso consenso em torno dodesenvolvimento sustentável e provocou os ativistas ao dizer que odesmatamento quase total da Mata Atlântica em São Paulo “não trouxenenhuma consequência mais drástica” para o estado ou para opaís. “Pergunte aos italianos, aos japoneses, aos que vieram para oBrasil se eles se arrependeram de ter desmatado”, provocou.  Reisainda apontou a existência de interesses internacionais na conservaçãoda Amazônia como sumidouro de carbono para reduzir os impactos dasmudanças climáticas e questionou o cenário que prevê a transformação dafloresta em savana por causa do aquecimento do planeta. “Osmodelos que previam mais chuvas para a Amazônia foram cortados. É umjogo de cartas marcadas. Essa idéia de savanização é até irônica. Setivermos garantia de savanização da Amazônia, então o melhor éaproveitá-la logo antes que se torne improdutiva”. Diante dosânimos exaltados da platéia em reação às idéias de Reis, o coordenadordo fórum, professor Laerte Guimarães Ferreira, do Instituto de EstudosSocioambientais da Universidade Federal de Goiás, contemporizou e disseque a discussão sobre meio ambiente “não deve ser maniqueísta”, comrepresentantes do bem e do mal. “Temos que tomar consciência dacrise ambiental que vivemos, mas não existe bem e mal nessa discussão.São questões complexas do ponto de vista econômico, científico e depolíticas públicas”, ponderou.*A repórter viajou a convite da organização do evento.