Minc assina concessão do Parque Lage à Escola de Artes Visuais do Rio

20/06/2009 - 18h03

Luiz Augusto Gollo
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Aassinatura do termo de concessão por 20 anos do Parque Lage - situadodentro do Parque Nacional da Tijuca, no bairro carioca do JardimBotânico - ao governo do estado, nesta tarde (20), reuniu o ministro doMeio Ambiente, Carlos Minc, e as secretárias estaduais de Cultura,Adriana Rattes, e do Meio Ambiente, Marilene Ramos, num ato revestido desolenidade e com forte conteúdo emocional. Ali funciona a Escola deArtes Visuais (EAV) do governo fluminense, criada em 1975 como espaço decriação, reflexão e protesto contra a ditadura militar, em seu períodomais duro para a cultura e as artes.“Esta concessão simboliza aunião da cultura com a ecologia”, disse Minc, aplaudido pelassecretárias e pelas dezenas de pessoas reunidas ao redor da piscina depedra, que serviu de cenário para a célebre cena da feijoada nofilme Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. O clima era dedescontração e sorrisos, “coroando uma luta de um ano e meio contra aburocracia de Brasília”, nas palavras do ministro. Ele explicou quedesde sua posse no ministério, há um ano, defendia a concessão doParque Lage para a EAV, esbarrando em obstáculos da Secretaria dePatrimônio da União (SPU), do Ministério do Planejamento. “Depois demuita conversa com o  Paulo Bernardo [ministro do Planejamento],prevaleceu o entendimento de que a SPU cuida do patrimônio, não dagestão. Assim, esse espaço de cultura, de convívio, de fantasia eloucura continuará nas mãos da Escola de Artes Visuais pelos próximos20 anos, prorrogáveis por mais 20 e mais 20, dentro daFloresta da Tijuca, que é responsabilidade do Instituto Chico Mendes."O ministro discursou em tom emocionado, refletindo o estado de espíritoda maioria dos presentes.Na noite da sexta-feira (19),véspera da assinatura do termo de concessão, alunos da escola eartistas participaram de uma performance ao redor da piscina, lembrandoexatamente a filmagem de Macunaíma, em meados da década de 70. Foitambém inaugurada a exposição O Jardim da Oposição, com fotos daépoca da luta libertária contra a censura e a opressão da ditadura,depoimentos gravados em vídeo por protagonistas e participantes daquelaluta e impressos variados que circulavam entre os jovens da Escola deArtes Visuais, dirigida por seu idealizador, o artista plástico RubensGerchman. A EAV ocupa o palacete onde viveu a cantora líricaBesanzoni Lage, uma construção sólida erguida em pedra no meio doparque que leva seu nome, aos pés do Morro do Corcovado e do CristoRedentor. Durante os chamados "anos de chumbo" ali se apresentaram semcensura Caetano Veloso, Jards Macalé, Luiz Melodia e um dos maisfrequentes, o violinista Jorge Mautner. A escola também foi palco dosconcertos de música de Joaquim Koellreuter e ainda sede doInstituto Freudiano do Brasil e do jornal Lampião da Esquina, fundadopelo novelista Aguinaldo Silva e primeira publicação homossexual a se firmar no universo da imprensa alternativa.“Este espaço da Escola de Artes Visuais está disponível, emcaráter oficial,a promover peças de teatro, exibição de filmes, fazer lançamento delivros, exposições, apresentações artísticas e musicais, leilõesbeneficentes - é para a escola fazer e acontecer. É proibido proibir!”, encerrou o discurso o ministro Minc, com o termo de cessão erguido na mão.AEscola de Artes Visuais funcionava em situação precária, ou seja, semconcessão. A partir de agora seu funcionamento está dentro da lei - oque é a principal conquista, na opinião tanto da secretária de Culturaquanto dos vários ex-alunos e colaboradores que participaram da festa, abrilhantada pelo grupo Chorando Baixinho, da Escola de MúsicaVilla-Lobos, que sob o comando do professor Genivaldo Soares executoupeças de Abel Ferreira, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Luiz Americanoe outros.