Banco Central deveria baixar juros para segurar a valorização do real, diz especialista

07/06/2009 - 15h52

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A recente queda da cotação dodólar, com a forte entrada da moeda norte-americana no país, tem provocado um debate sobre a necessidade de reduções mais intensas na taxabásica de juros, a Selic, e de aumento na tributação de capitalestrangeiro de curto prazo e especulativo. A queda da Selicreduziria o interesse de investidores estrangeiros em trazer dinheiropara o Brasil. A diferença entre a taxa básicabrasileira e as de fora do país aumenta a atratividade dasaplicações locais. Investidores tomam recursos forado país a uma taxa de juros baixa, convertem os dólares em reais eaplicam os recursos no Brasil.A forte entrada de recursos estrangeiros no país tem sido apontada como uma das razões para a forte queda do dólar no Brasil. "Os juros reais [descontada a inflação] no Brasil estão em 5% e no resto do mundo, próximos de zero. Os juros no Brasil deveriam se aproximar ao máximo dos praticados fora do país", diz o economista AntônioCorrêa de Lacerda, daPontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. A reunião do Comitêde Política Monetária (Copom) do Banco Central, que define a Selic,será realizada na próxima terça (9) e quarta-feira (10). A expectativade analistas de mercado, ouvidos pelo Banco Central, é de umaredução dos juros básicos dos atuais 10,25% para 9,5% ao ano. Segundo Lacerda, se o dólar ficasse em torno de R$ 2os efeitos na economia não seria tão danosos. Mas, acrescenta ele, a continuidade dequeda acentuada do dólar leva a uma redução das exportaçõesbrasileiras e afeta a os investimentos na produção doméstica,uma vez que a importação de produtos fica mais barata e passa a crescer. “Aimportação para substituir a produção local não gera emprego e reduz a arrecadação de tributos”, disse. No caso daimportação de máquinas e equipamentos, que indicam incremento naprodução no país, Lacerda sugere que sejam zerados o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a tarifa deimportação paraestimular a compra desses produtos. Lacerda também defende que, além de reduzir os juros os básicos, o Banco Central intensifique a compra de dólares que estão entrando fortemente no país. O Banco Central tem feito leilões de compra dedólares no mercado à vista diariamente desde o dia 8 de maio deste ano. Outra ação necessária, navisão de Lacerda, é a tributação maior para inibir a entrada de capital especulativo.No último dia 3, opresidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que “não sejustifica no momento” a retomada da cobrança do Imposto sobreOperações Financeiras (IOF) nos investimentos estrangeiros em rendafixa. Segundo ele, o fluxo de entrada e saídade dólares "mostra que a grande entrada decapitais” é principalmente para o investimento estrangeiro no setorprodutivo e ações na Bolsa de Valores de São Paulo. Meirelles tambémrechaçou a ideia defendida por analistas do mercado e economistasde uso da taxa Selic para baixar o câmbio. Para o presidente do BC, essaestratégia “seria um abandono do atual sistema [câmbioflutuante e metas de inflação], que tem tanto sucesso”.Ele destacou que existe muito mais correlação entre opreço das commodities (soja, minério de ferro, petróleo) e a moeda brasileira. Segundo ele,quando há aumento dos preços das commodities, o valor da moedabrasileira também sobe porque as exportações crescem e mais recursos estrangeiros entram no país. “É uma correlação importante, queinfluencia as cotações do câmbio. Dificilmente, governos conseguem alteraressas correlações em termos reais.” O professor da PUCconcorda com o argumento das commodities, mas afirma que justamente ofato de o dólar ser influenciado por fatores externos é que oBrasil “deveria usar os instrumentos que tem disponíveis internamente”.