Medidas anticrise deixam fatores ambientais de lado, dizem especialistas

09/04/2009 - 9h15

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As medidas dogoverno brasileiro para tentar amortecer os impactos da crisefinanceira internacional na economia interna, ao contrário de países como Estados Unidos e Inglaterra, não consideram fatoresambientais na tomada de decisões e estão entre as “menos verdes” doplaneta. De acordo com o diretor de políticas públicas da organizaçãonão-governamental Greenpeace, Sérgio Leitão, o governo está perdendo aoportunidade de fortalecer o desenvolvimento sustentável e estimular achamada economia verde. “As medidas anticrise estão sendotomadas de forma totalmente desvinculada de critérios ambientais. Ogoverno poderia fazer o 'casamento do ótimo com o bom' – ao mesmo tempoem que estimula o emprego também estimula uma economia moderna, doséculo 21, que é aquela com baixo consumo de eletricidade e gerandopouco dióxido de carbono,”, apontou.O professor do Instituto deRelações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), EduardoViola, pondera que a maioria dos pacotes de socorro financeiro mundoafora tem elementos para “favorecer a transição para economias de baixocarbono”, o que não é o caso do Brasil. Segundo Leitão, empaíses como Estados Unidos e Inglaterra a crise tem sido umaoportunidade para experiências como a exigência de carros menospoluentes para indústrias que receberam socorro financeiro e estímulo àcriação de empregos verdes –  adotadas pelo presidente norte-americanoBarack Obama e pelo primeiro ministro inglês, Gordon Brown. “Aquino Brasil só se olha um lado da crise – o econômico – sem olhar o ladoda oportunidade, de se resolver o problema do emprego e da economia doponto de vista da geração de menos poluentes”, comparou. Um dosmaiores exemplos da ausência de contrapartida ambiental nas medidas desocorro à economia, segundo os especialistas, é o programa habitacionallançado no último dia 25, que prevê a construção de 1 milhão de casas,mas sem referências à utilização de tecnologias verdes nos projetos. “O governo poderia ter feitouma série de exigências de que as casas que serão construídas tivessemcoletores de luz solar, que ela é muito mais econômica do ponto devista da eletricidade. Se o governo desse uma contribuição do ponto devista da produção massiva, o custo [dessa tecnologia] iria cair deforma significativa”, avaliou Leitão. O ministro do MeioAmbiente, Carlos Minc, chegou a anunciar a inclusão do sistema deaquecimento solar de água para as casas do pacote habitacional. Noentanto, a informação não foi confirmada pela Caixa Econômica Federal.De acordo com a assessoria do Ministério do Meio Ambiente, o aval parao projeto ainda depende da área econômica do governo. Procurada pelareportagem, a Caixa informou apenas que os detalhes da participação dobanco na execução e financiamento dos projetos serão anunciados estasemana, mas não confirmou a inclusão de subsídios para instalação deplacas de energia solar.De acordo com Viola, o programa também poderia prever a utilização de técnicas de construção sustentáveis. “As casas poderiam ter umpadrão de edificação verde, o chamado greenbuild, por exemplo, com tetoscom camadas de grama, que tornam o ambiente mais fresco”, apontou. Asmedidas adotadas para fortalecer a indústria automobilística tambémpoderiam incluir ações compensatórias do ponto de vista ambiental. Aredução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), por exemplo,poderia ter sido condicionada à maior rapidez no desenvolvimento e na produção de motores adaptados a diesel menos poluente. “O pacote para o setor teria que ter tidoum componente no sentido de favorecer o transporte público. Oscongestionamentos são grandes problemas hoje. Por causa das horasparados no trânsito, a eficiência do quilômetro rodado é muito baixa oque torna as emissões de carbono muito altas, principalmente em ônibuse caminhões movidos a diesel”, acrescentou Viola. Apesar da“oportunidade perdida” pela ausência de critérios ambientais nospacotes, Viola acredita que o Brasil ainda poderá reverter a demandapor investimentos verdes. “Até porque o pacote [de medidas anticrise]só representou 1,5% do PIB [Produto Interno Bruto], nos Estados Unidosfoi 7% e na China chegou a 13%. Esse é um processo muito longo, hábastante tempo para recuperar.”