Operações de choque da prefeitura dividem opiniões de moradores do Rio

11/01/2009 - 17h18

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Ações de rua envolvendo diretamente secretários, fiscais e um grande número de guardas municipais fazem parte da nova filosofia de governo adotada pelo recém-empossado prefeito do Rio, Eduardo Paes. As chamadas operações de choque de ordem visam combater duramente todo e qualquer tipo de irregularidade na cidade. Mas, apesar do objetivo nobre, elas não têm apoio unânime da população.Durante a manhã de hoje (11) as ações foram realizadas na praia de Ipanema, zona sul da cidade. Os principais alvos foram os carros usados pelos vendedores ambulantes como depósito de material e que ficam estacionados próximos à praia. Na maioria kombis muito antigas, os veículos acabaram rebocados pela Guarda Municipal, apesar dos protestos dos proprietários.A operação foi coordenada pessoalmente pelo secretário municipal de Ordem Pública, Rodrigo Bethlem. “O objetivo foi fiscalizar todas as posturas, mas o principal ponto foi liberar vagas de estacionamento que, em vez de servirem para as pessoas fazerem seu lazer aos domingos, estavam servindo de depósitos clandestinos. São veículos sem nenhum estado de conservação, sem documento e sem tíquete [de estacionamento]”, justificou Bethlem.O secretário recebeu apoio de diversos moradores do bairro, habitado principalmente por pessoas de alto poder aquisitivo. “Concordo completamente com a atitude. É preciso organizar e administrar. Que os ambulantes paguem uma taxa. Mas nós não somos culpados por essa desordem”, afirmou a servidora federal Eunice Borges.“Estou muitíssimo satisfeita com essa operação. Isso é apropriação do espaço público pela esculhambação. Não se pode, onde se paga um IPTU [Imposto Predial Territorial Urbano] tão alto, ter isso na porta: carros ilegais, kombis, essa esculhambação”, declarou a professora aposentada Marta Toledo.Enquanto as kombis eram rebocadas por caminhões da prefeitura, o donos protestavam. “O que vai acontecer com a gente, se não podemos trabalhar? Por que o prefeito não dá um lugar para a gente parar o carro? Ele está vendo só o lado do bacana”, reclamou o vendedor Wellington de Almeida. “Se a gente não puder trabalhar, como vamos sustentar nossas famílias? Se roubar, vai preso. Eles têm que dar um jeito de nos deixar trabalhar”, pediu João Vieira da Silva Filho.“Como é que a gente vai fazer o nosso trabalho? A gente depende disso. Vai fazer o quê? Vai roubar? Só estão fazendo isso porque os bacanas estão ali. Se for fazer isso na zona norte, depois do túnel, vai ganhar é bala”, disse o ambulante Adilson Barbosa.Para a turista gaúcha Maria Cristina Oliveira, que assistiu à operação enquanto passeava pelo calçadão, poderia haver outras formas de ordenamento, sem punir os trabalhadores. “É complicado, ao mesmo tempo que a gente acha que não está correto esse tipo de situação, eles [os camelôs] estão trabalhando. A prefeitura deveria oferecer mais condições de trabalho, ao invés de apenas sair cortando esse tipo de serviço”, sugeriu.