INB quer dominar ciclo do combustível nuclear e exportar urânio, afirma diretor da estatal

08/05/2008 - 20h22

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A perspectiva de construção da usina de Angra 3 e de novas plantas nucleares, conforme sinalizou ontem (7) a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, abre possibilidade da estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) passar a  produzir urânio comercialmente. A informação é do diretor da Área de Produção Nuclear da INB, Samuel Fayad.“Essa é a nossa busca, o nosso trabalho. Nós nunca deixamos de buscar a estruturação do ciclo do combustível, de modo que ele,  nos próximos seis anos, possa estar disponível no Brasil para atender a toda a  necessidade nacional”, disse.

O governo criou um grupo interministerial para rever o programa nuclearbrasileiro e, com isso, redefinir os estoques necessários para oatendimento à demanda nacional e as capacidades de exportare de agregar valor com a tecnologia que está sendodesenvolvida no país.

Fayad analisou que a ampliação do parque nuclear brasileiro aumentará a capacidade da INB de trazer recursos para o país, através da exportação de componentes e do próprio urânio, agregando valor. “Isso tudo dependerá da análise que esse grupo interministerial está fazendo sobre as possibilidades da utilização do urânio, que é uma reserva energética brasileira importante e estratégica e que tem que ser tratada como tal, sem perder o que ela pode trazer de dividendos para o país, ajudando no bem-social, levando uma energia mais barata,  mais segura e mais limpa  à população”, afirmou. 

A produção de urânio alcança atualmente 400 toneladas/ano. O minério é retirado da mina da INB de Caetité, na Bahia. “Essa é a nossa produção anual, que corresponde às necessidades de Angra 1 e Angra 2”, disse. Fayad revelou que a INB está desenvolvendo um projeto de ampliação de sua capacidade para que, em 2014, a produção de urânio possa dobrar para 800 toneladas/ano, visando a atender não só as unidades nucleares atualmente em operação, mas também a usina nuclear deAngra 3.

O Brasil tem a sexta maior reserva mundial de urânio, embora tenha somente 30% do território prospectados. As reservas somam cerca de 300 mil toneladas de urânio sob o aspecto mineral. A transformação do minério em concentrado constitui o primeiro beneficiamento do urânio na escala do ciclo do combustível nuclear. As etapas seguintes são a conversão e o enriquecimento. Esses dois serviços, em nível industrial, ainda são contratados  no exterior. Já a fase posterior de produção do combustível nuclear é feita na fábrica da INB, no estado do Rio.

O diretor da INB afirmou que a meta é ampliar a prospecção, com o objetivo de elevar as reservas brasileiras de urânio. Ele  observou que os países em desenvolvimento não têm o perfil energético do Brasil e, em sua maioria, são carentes de energia térmica. “Ao longo dos últimos 20 anos, demonstrou-se que a energia térmica nuclear é uma energia limpa e que vem colaborando positivamente contra o efeito estufa. Em função disso, todos os países em desenvolvimento estão se direcionando para a utilização da energia nuclear”, manifestou.