Economista diz que programas sociais do país vizinho não têm transparência

21/10/2007 - 15h09

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os programas de distribuição de renda na Argentina alcançam quem realmente precisa? Os critérios de distribuição do dinheiro sofrem muita influência política? Esses são alguns questionamentos levantados pelo economista argentino e vice-presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Juan Carlos Deheza, em entrevista à Agência Brasil.O economista acha que faltam mecanismos de monitoramento claros e passíveis de serem controlados pela população. Ao contrário do que acontece no Brasil, Deheza explica que, na Argentina, a verba é entregue às pessoas cadastradas por meio de instituições da sociedade civil. "Imagine como seria se você distribuísse o Bolsa Família no Brasil por uma ONG, em dinheiro".Ele relembra acusações feitas há cerca de um ano, de que haveria fraudes na distribuição dos recursos. "Só os especialistas em temas sociais na Argentina questionam o governo, mas o governo não tem muito interesse em responder a eles", lamenta.Para Deheza, é necessário admitir que a situação da população argentina já melhorou muito depois da crise que teve seu auge no final de 2001. "A queda nos níveis de pobreza, desde o ano do pico da crise até agora, tem sido muito significativa".Ele acrescenta que no início de 2002, dados apontavam que "entre 53% e 55% da população estava abaixo da linha da pobreza, e algo na faixa de 35% estava abaixo da linha da miséria".Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), o índice de pessoas abaixo da linha de pobreza é de 24% na área urbana total do país e 22% na Grande Buenos Aires. Para o analista Mario Wainfeld, que também deu entrevista para a Agência Brasil, “há menos pobreza, embora haja muitíssima”. Na época, explica o economista Deheza, fatores como a crise econômica na Rússia, a desvalorização do real no Brasil e a queda nos preços das commodities agropecuárias, somadas ao câmbio fixo da Argentina, que estabelecia paridade entre dólar e peso, levaram a uma queda "monstra" no Produto Interno Bruto e na renda da população, "com todas as conseqüências sociais que se pode imaginar".Às dificuldades econômicas, somou-se uma decisão do governo que proibia as pessoas de tirar dinheiro do banco, o corralito. "Isso criou uma sensação de incerteza e uma falta de segurança na população que levou àquelas manifestações populares, que culminaram na queda do governo", diz Deheza.A retomada do crescimento argentino possibilitou ao governo colocar em práticas programas sociais e de distribuição de renda, diz ele. "A implementação de planos sociais tem tido um efeito significativo na diminuição tanto da taxa de desemprego quanto dos níveis de pobreza, mas essa distribuição de dinheiro para os setores mais pobres do país não é feita com a transparência dos programas similares que se tem no Brasil".Atualmente, de acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento Social da Argentina, há três programas do gênero. O Plano Nacional de Segurança Alimentar se destina a famílias que não conseguem suprir suas necessidades de alimentação; o Programa Família pela Inclusão Social atende famílias em situação de risco social, com auxílios financeiros que dependem da quantidade de menores de idade; o Plano de Desenvolvimento Local e Economia Social ajuda financeiramente empreendimentos produtivos, entre outras ações.