Foto de Vargas com mão suja de óleo foi símbolo da campanha O Petróleo é Nosso

21/04/2006 - 11h00

Aécio Amado
Repórter da Agência Brasil

Rio - Uma foto é parte da história da exploração do petróleo no Brasil. Ela é um ícone do movimento que culmina com a criação da empresa que levou o país à auto-suficiência na produção de petróleo. A foto do presidente Getúlio Vargas com uma das mãos suja de óleo é um dos símbolos da campanha O Petróleo é Nosso.

Ela foi tirada em 1952, um ano antes do presidente Vargas promulgar a lei de criação da Petrobras. A foto voltou a ser estampada em peças de publicidade em diversas cidades do país, nas comemorações dos 50 anos da empresa.

A foto do presidente da República com uma das mãos escorrendo óleo foi mais que um golpe de sorte do então fotógrafo oficial do presidente Getúlio Vargas, Renato Pinheiro. Há no flagrante uma história de astúcia do jovem fotógrafo, de 27 anos, que três anos antes havia deixado a pequena Aracaju, capital do estado de Sergipe, para trabalhar no Rio de Janeiro, então sede do governo federal.

"Havia fotógrafos de vários jornais do país na cobertura da visita presidencial a um poço de petróleo, no município de Candeias, na Bahia. O presidente Vargas e membros da comitiva prestavam atenção nas explicações técnicas sobre o poço, dadas pelo engenheiro responsável (geólogo Pedro de Moura). Ao final, os fotógrafos pediram ao presidente Vargas que pousasse cumprimentando o engenheiro. Naquele instante pensei que, se esperasse mais um pouco, poderia fazer algo diferente. E foi o que aconteceu. Terminado o cumprimento o engenheiro mostrou um capacete melado de óleo, e pediu ao presidente da República que sentisse nos dedos a viscosidade do petróleo".

Naquele momento, segundo Renato Pinheiro, enquanto os outros fotógrafos trocavam as chapas de suas máquinas, sugeriu ao presidente Vargas que mostrasse a mão suja de óleo. E com a sua Speed Graphic (máquina fotográfica de fabricação americana) fez a foto que virou símbolo.

Renato Pinheiro recorda ainda que em 1953, numa cerimônia no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, fotografou o presidente Getúlio Vargas assinando a lei que criava a Petrobras. "Naquele dia o presidente estava de terno cinza, e muito feliz", disse.

Renato Pinheiro, de 82 anos, mora atualmente em Brasília e trabalhou na Presidência da República até 2003. Ele ainda lembra do encontro com o chefe da Casa Civil da Presidência da República, Lourival Fontes, quando foi convidado para trabalhar como fotógrafo oficial do presidente Vargas. Era o ano de 1951.

"O embaixador Lourival Fontes, me puxou pro canto do gabinete, no Palácio do Catete, apontou para três macaquinhos encima de sua mesa, com as mãos nos ouvidos, nos olhos e na boca, e recomendou: "quem trabalha aqui tem que ser igual a eles. Não ouve, não ver e não fala", recorda. No dia seguinte, Renato Pinheiro já estava com a sua Speed Graphic fotografando as audiências e os eventos presidenciais.

Renato também não esquece da agitação política em torno da campanha O Petróleo é Nosso. "Vivia-se um período de intensa campanha pela nacionalização da exploração e produção do petróleo no Brasil, com o presidente Vargas participando de vários eventos".

A campanha dividia os políticos entre os que eram contra a nacionalização e os que eram a favor. Vargas estava entre os que defendiam a nacionalização. O presidente praticamente assumira o papel principal do movimento, e as suas freqüentes viagens às regiões produtoras tinham o objetivo de envolver o povo na campanha ao lado dos nacionalistas.

Foi numa dessas viagens ao Recôncavo Baiano, no ano de 1952, que Renato Pinheiro conseguiu fazer a foto que se transformou num dos símbolos do movimento.