Especial 6 – Chacareiro relata como aconteceu pulverização por agrotóxicos em Lucas do Rio Verde

14/04/2006 - 10h26

Paulo Machado
Enviado especial

Lucas do Rio Verde (MT) – O chacareiro Ivo Casonato, um dos mais prejudicados pela pulverização ilegal de agrotóxicos sobre a cidade de Lucas do Rio Verde, no dia 1º de março, diz que foi testemunha do crime que dizimou plantações de pequenos produtores, plantas ornamentais e medicinais, além de expor a população de 25 mil habitantes ao veneno.

Casonato conta que nos últimos quatro anos teve prejuízos com as aplicações de agrotóxicos. Segundo ele, no ano passado, perdeu quase toda a produção de 45 mil pés de tomate, além de um melancial e limoeiros que já estavam produzindo. "O avião faz o balão aqui em cima", mostra ele, apontando para o céu e descrevendo com o dedo indicador a rota da aeronave. "Ele gira em torno desse pé de jatobá e vai rasante sobre a minha lavoura – ele podia manobrar esse avião lá pelo lado de lado de lá."

Mesmo tendo outras rotas para fazer o retorno, o piloto de monomotor vermelho, segundo ele, insistia em dar rasantes sobre a sua propriedade. Após cada passada do avião, uma nuvem fina "como uma neblina" tomava conta do ar, informou o chacareiro. As conseqüências dessa "neblina", seria sentida nos dias seguintes, em diversos pontos por toda a cidade. Até agora, o Ministério Público, a Polícia Civil e os órgãos estaduais responsáveis pela fiscalização não identificaram os autores.

Contudo, o chacareiro desconfia que a pulverização que atingiu a cidade partiu do monomotor que sobrevoava a sua propriedade para despejar veneno sobre a plantação de soja de seu vizinho. Procurado pela Agência Brasil, o proprietário das terras não foi encontrado para esclarecer o caso. Em 2005, Ivo Casonato já havia processado o vizinho pelo mesmo motivo. O chacareiro chegou a fotografar o avião monomotor que acabou com a sua produção de melancia, seu pomar de limões, além de abóboras e mandiocas. Neste ano, ele perdeu o milharal.

Hoje, ele se diz "revoltado" com a possibilidade de um novo processo "não dar em nada" e ter novamente que arcar com os prejuízos. O agricultor, que não utiliza veneno em sua produção, explica que o tipo de agrotóxico que caiu sobre sua plantação é o dessecante para soja, como o que parece ter caído sobre Lucas do Rio Verde. Casonato explica que esse veneno é utilizado para apressar a colheita, uma vez que o tempo está chuvoso e a soja precisa ser colhida rapidamente para plantarem a segunda lavoura do ano: o milho da safrinha, por exemplo.

Leia as matérias anteriores do especial:

Especial 5 - Chacareiro diz que pulverizações de agrotóxico se repetem todo ano

Especial 4 – Veneno destrói anos de pesquisa em horto medicinal no Mato Grosso

Especial 3 - Pequenos agricultores sofrem com pulverizações sem controle de agrotóxicos

Especial 2 - Especialistas notificaram órgãos públicos responsáveis pela fiscalização

Especial 1 - Pulverização de cidade com veneno gera debate sobre impacto ambiental do agronegócio