Especial 11 - Especialista contesta exame da qualidade da água em Lucas do Rio Verde

14/04/2006 - 10h28

Paulo Machado
Enviado especial

Lucas do Rio Verde (MT) – Para o doutor Wanderley Antonio Pignati, mestre em saúde pública da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a análise de resíduos químicos realizada pelo Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) de município de Lucas do Rio Verde, não obedece aos padrões e normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso, segundo ele, não pode garantir que a água que abastece a cidade não esteja contaminada por agrotóxicos.

Segundo o especialista, a Anvisa determina que esse tipo de exame, quando realizado em laboratórios particulares, tem que obedecer a determinadas normas, como por exemplo, as amostras de água têm que ser coletadas na presença de testemunhas e ser enviadas a pelo menos três laboratórios diferentes. No caso de Lucas de Rio Verde, as amostras foram coletadas pelo próprio Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto (SAAE) do município, conforme consta do laudo de um único laboratório particular que realizou a análise das amostras, coletadas em 21/03/2006: a Analítica Analises Químicas e Controle de Qualidade de Cuiabá.

Outra falha apontada pelo doutor Pignati refere-se ao fato de que o laboratório realizou testes para verificar a presença ou não de apenas dez princípios ativos. No Brasil, porém, existem mais de 650 princípios ativos que podem ser encontrados nos produtos que estão no mercado. O médico afirma que o laboratório não pode atestar que não existem resíduos químicos de herbicidas, pesticidas, desfoliantes e fungicidas, de maneira geral, conforme consta do laudo da análise feita pelo laboratório particular de Cuiabá. "No máximo, eles poderiam afirmar que não encontraram resíduos desses dez princípios ativos que eles analisaram."

Outro problema apontado pelo médico da UFMT é que os agrotóxicos têm seus princípios ativos modificados quando entram em contato com a água, o sol e o solo e se decompõem em metabólitos que podem ser tão ou mais perigosos para a saúde humana do que os próprios princípios ativos.

Como exemplo ele cita o caso do Paraquat, que é utilizado nas pulverizações para secar a vegetação. "O Paraquat entra em reação quando é exposto ao sol – ocorre uma fotólise e em uma semana o veneno original desaparece. Se você procurar pelo principio ativo do Paraquat, após uma semana você não vai encontrar, mas seu metabólito, que é altamente cancerígeno, vai estar lá, presente na amostra com a forma de Alfa-Paraquat. Se você não fizer os testes específicos para detectar o metabólito Alfa-Paraquat, você não vai encontrá-lo", explicou.