Mulheres extrativistas do Pará acusam empresas de cosméticos de concorrência predatória

07/04/2006 - 7h48

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil

Manaus - A técnica milenar de extração artesanal do óleo da andiroba está ameaçada. As mulheres extrativistas do Pará, guardiãs desse conhecimento, acusam as empresas de cosméticos de promover uma concorrência predatória.

De acordo com elas, as empresas compram grandes quantidades de andiroba da mão de grileiros, que fazem a coleta sem planejamento. Com isso, o número de frutos disponíveis teria diminuído, tornando ainda mais difícil a utilização da amêndoa pelas comunidades tradicionais, seja para fins terapêuticos ou comerciais.

"As empresas geralmente compram mesmo é andiroba bruta, elas pagam R$ 20 pela tonelada da amêndoa. A gente fica sem matéria-prima para trabalhar e sem ter como concorrer no mercado", contou hoje (7) a presidente da Cooperativa Ecológica de Mulheres Extrativistas de Marajó (Cemem), Edna Marajoara, em entrevista ao programa Ponto de Encontro , da Rádio Nacional da Amazônia .

"A Ilha de Marajó é uma área de proteção ambiental, são terras da União, mas aqui está cheio de grileiros. Com o eco-marketing, eles cresceram o olho sobre as andirobeiras - e nossas mulheres são obrigadas a coletar a amêndoa dos frutos que caem nos rios, apenas. Tem faltado material para extrair o óleo que usamos na pele (para cicatrização), no xarope, nas compressas e no cabelo, para matar caspa e piolho."

Segundo Edna Marajoara, quando as empresas de cosméticos compram o óleo em vez da andiroba bruta, elas dão preferência ao óleo extraído por meio de prensa (sistema mecânico), pagando R$ 5 pelo litro, metade do valor (R$ 10) pelo qual é vendido o óleo artesanal. Cada 100 quilogramas de amêndoa produz 20 litros de óleo de andiroba, no modo artesanal. No sistema mecânico, seriam 70 litros.

Diante da desvantagem produtiva, cerca de 200 mulheres extrativistas paraenses montaram uma cooperativa há cinco anos. Hoje, elas estão com mil e cem litros do óleo da andiroba estocado, sem ter a quem vender.

A assessora técnica da cooperativa, Thaíssa Pinheiro, explica que, pelo modo artesanal, a produção acontece apenas durante parte do ano, quando os frutos amadurecem, entre dezembro e abril.

"É um processo lento, manual. Durante 15 dias, a polpa da andiroba fica descansando na sombra, embrulhada em folha de bananeira. Depois, é colocada em uma espécie de funil de madeira, para escorrer o óleo", revelou Pinheiro.

Para otimizar esse processo, a cooperativa elaborou um projeto para a construção de uma usina em pequena escala. Por meio dela, as mulheres poderiam fazer sabonete com o óleo extraído. O custo do empreendimento está calculado em R$ 100 mil.

A comunidade aguarda parecer dos professores da Universidade Federal do Pará para enviar a proposta ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A presidente da cooperativa de mulheres extrativistas reivindica apoio governamental para que o modo de produção artesanal seja preservado.

"Em março, na COP ( Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, em Curitiba), a gente colocou um cartaz dizendo que queríamos ser tratadas como animais em extinção", lembrou Marajoara. "O governo tem programas para peixe-boi, para a floresta. Por que não há uma política pública para as mulheres andirobeiras?"