Dirigente considera que há avanços na integração do Brasil e países árabes

03/04/2006 - 10h35

Paulo Montoia
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Para o presidente da Câmara de Comércio Brasil Árabe (CCBA), Antonio Sarkis Jr., a aproximação do Brasil com os 22 países da Liga Árabe é comercial, cultural e política e que "uma coisa ajuda a outra" nessa relação. Em entrevista à Agência Brasil, Sarkis fala da importância da assinatura do convênio entre a câmara e o Ministério das Relações Exteriores. O dirigente lembra que já foram autorizadas novas linhas áreas diretas para a região e comenta temas da Cúpula de Quito, que reunirá os ministros de economia sul-americanos e árabes em 25 e 26 de abril.

Agência Brasil: Qual a importância da assinatura desse convênio (que reconhece a CCBA como interlocutora legítima da Liga Árabe para a assinatura de parcerias) para a aproximação dos dois blocos e, particularmente, do Brasil com os países árabes?
Antonio Sarkis Júnior: Acho que para a câmara é de fundamental importância essa assinatura, porque ela sempre vem trabalhando, tanto comercialmente quanto culturalmente e politicamente o Brasil e os países árabes. A gente tem notado que existia grande falta de informação. Nem os brasileiros tinham real noção da potencialidade dos países árabes na parte econômica e cultural e esse conhecimento foi se fazendo, e também por parte dos árabes, de ter um país com preços competitivos, com qualidade e com a amabilidade. O árabe gosta muito do brasileiro. As nossas culturas são muito parecidas, aquela cultura de trazer para a família, de calor humano.

A amabilidade do brasileiro foi uma descoberta para o árabe. E isso resultou no crescimento dos negócios. Uma coisa ajuda a outra: o comércio ajuda a aproximação cultural, as duas juntas ajudam a aproximação política. O que a gente tem sentido nesses últimos anos é um conjunto de fatores positivos que culminaram com a cúpula (de Chefes de Estado em Brasília, realizada em 2005), com a visita de várias autoridades árabes no Brasil - como a recente visita do príncipe da Jordânia - e também a visita do próprio presidente Lula à Argélia, que é um país árabe, após a cúpula.

ABr: Para que a aproximação se concretize, havia a necessidade de vôos diretos entre o Brasil e os países árabes e parece que já na primeira linha isso não deu muito certo?
Sarkis: A linha é parceria da TAM com a Middle East Airlines (Linhas Aéreas do Oriente Médio, do Líbano). Está funcionando, mas não se conseguiu horários que a tornassem ótima. A dificuldade do acordo está nos horários em que o avião da TAM chega a Paris e o da Middle East parte para Beirute. Mas também já temos novidade, pois a Emirates Airlines (Empresa dos Emirados Árabes Unidos) está para inaugurar um vôo direto São Paulo-Dubai e também já tem autorização para operar Dubai-Rio de Janeiro.

ABr: Ainda nesse sentido, das rotas de ligação, nós não temos uma linha de navio mercante direta. Esse é um dos temas em que se espera avançar na Cúpula do Equador?
Sarkis: Isso. A gente tem trabalhado e sentido junto aos empresários árabes que esse é um fator que não favorece as empresas brasileiras: a demora na chegada do produto e a falta de linhas diretas. Esse seria, na minha opinião, um dos principais fatores a serem atacados.

ABr: Como o Brasil exporta frango hoje para a Árabia Saudita, por exemplo?
Sarkis - Algumas empresas fecham acordos com uma empresa que tem linha direta, mas praticamente os acertos são fechados apenas com os principais exportadores. Existe uma empresa que opera Oriente Médio diretamente, mas não é suficiente para atender o mercado.

ABr: Sobre o encontro de Quito, parece que há uma grande expectativa de avanço no fechamento de um acordo do Mercosul com os países do Golfo?
Sarkis: Esse acordo já vem sendo tratado desde a Cúpula de Brasília - quando foi assinado um acordo-quadro - e eu acho que será um dos principais temas do encontro do Equador.