Conheça a vida e a luta de Dorothy Stang

12/02/2006 - 7h42

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília - A luta da missionária Dorothy Stang por uma das áreas mais pobres e necessitadas da região amazônica começou em 1982, numa conversa com o bispo da Prezalia do Xingu, Dom Erwin Krautler. Cortada pela rodovia Transamazônica, a pequena Anapu (PA), cidade abandonada após uma colonização fracassada durante a ditadura militar, foi indicada à missionária como uma das mais carentes da região. Com uma área de 11.895 quilômetros quadrados e pouco mais de 8 mil habitantes, a cidade se tornaria anos mais tarde em um dos principais pontos de conflito na luta pela terra.

A partir da década de 80, a região de Anapu, no centro do estado, mais conhecida como Terra do Meio, e o sul e sudeste passaram a formar a área de maior pressão de desmatamento da floresta, o que gerava conflitos entre grileiros, madeireiros, pequenos produtores e posseiros. Dorothy denunciou por diversas vezes a situação às autoridades brasileiras.

"Ela começou a trabalhar pela criação das reservas. Dorothy é o símbolo de luta defensora das reservas e das unidades de conservação. Os moradores que estavam nesses lugares sempre eram retirados porque chegava alguém e dizia que já era dono daquela terra", explica Antonia Melo, a "Toinha", do Grupo de Trabalho Amazônico em Altamira, uma antiga companheira da missionária assassinada.

Em junho de 2004, Dorothy esteve presente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre a violência no campo e denunciou que o quadro de impunidade agravou os conflitos. Segundo ela, os grileiros não respeitavam as terras já demarcadas, uma vez que as promessas de ações no estado não estavam sendo cumpridas. A audiência contou com a presença do então ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. Na época, o relator da Comissão, deputado federal João Alfredo (PT-CE) pediu a criação de uma força-tarefa entre Ministério Público e Polícia Federal para atuar no Pará.

Nascida em 7 de junho de 1931, na cidade de Dayton, no Estado de Ohio, Dorothy veio para o Brasil em 1966. Fazia parte de uma congregação internacional da Igreja Católica – Irmãs de Notre Dame de Namur – que tem como princípio ajudar os mais pobres e marginalizados. Sua primeira experiência foi em Coroatá (MA), onde acompanhou o trabalho dos agricultores nas comunidades eclesiais de base.

Com o passar do tempo, o povo já não tinha onde plantar e precisava se submeter aos mandos e desmandos dos latifundiários. Diante da situação, muitos migraram para o Pará e Dorothy acompanhou esse movimento. O engajamento para a criação dos Projetos de Desenvolvimento Social (PDS) – novo modelo de assentamento baseado na produção agrícola familiar, atividades extrativistas de subsistência e baixo impacto ambiental – alimentou a ira dos fazendeiros e grileiros e atraiu os olhares para Dorothy.

Da mesma forma que morreu Dorothy Stang, os interesses dos grandes fazendeiros, grileiros e madeireiros ilegais também calaram vários líderes brasileiros, como Chico Mendes, irmã Adelaide e Padre Josimo. A luta da freira pelo direito dos pequenos agricultores na Amazônia foi interrompida por seis tiros à queima roupa no dia 12 de fevereiro de 2005.