Novas hidrelétricas podem causar impacto ambiental, diz especialista em peixes

05/01/2006 - 17h56

Ana Paula Marra
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Mesmo com a aplicação do licenciamento ambiental, o especialista em peixes, Flávio Lima, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, não descarta a possibilidade de impactos ambientais na instalação de projetos de infra-estrutura. Por isso, ele alerta para a necessidade de estudos de impacto ambiental cada vez mais rigorosos antes da construção de um novo empreendimento. Em entrevista à Agência Brasil, Lima se afirmou preocupado com a construção de seis usinas hidrelétricas no país, conforme anunciou esta semana a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Duas das usinas integram o complexo do Rio Madeira e têm, juntas, capacidade de produzir 6.450 megawatts (MW). Segundo a ministra, outras quatro – Dardanelos (MT), Mauá (PR), Cambuci (RJ) e Barra do Pomba (RJ) – devem participar do próximo leilão. Elas ficaram de fora da última licitação, em dezembro do ano passado, porque não obtiveram licença ambiental a tempo.

Apesar de serem parte das necessidades de infra-estrutura do país, Lima observou que as novas hidrelétricas vão causar forte impacto ambiental, em especial no ecossistema aquático. "Não podemos continuar com essa mentalidade de que se a gente fizer a licitação ambiental para construir um empreendimento está resolvido o problema, que não haverá impactos para o meio ambiente. Isso é uma mentira", afirmou ele.

Quanto à construção das hidrelétricas no Rio Madeira, o especialista destacou ainda que a tendência é que elas tenham vida útil encurtada, por causa da grande quantidade de sedimentos existentes na bacia. "Muitas vezes é vendida a idéia de que as hidrelétricas podem nos fornecer energia atemporal, o que não é verdade. As hidrelétricas tem vida média: quanto mais sedimento houver em um rio, menor a durabilidade delas", observou Flávio Lima.

O Rio Madeira, principal afluente do Rio Amazonas, tem 1.700 quilômetros de extensão em território brasileiro e vazão média de 23.000 metros cúbicos por segundo. É formado pelos rios Guaporé, Mamoré e Beni, originários dos planaltos andinos, e apresenta dois trechos distintos em seu curso, denominados Alto e Baixo Madeira.

O volume de energia do complexo do Rio Madeira deve gerar 6.450 megawatts. Isso representa pouco mais da metade da potência da usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo em operação, que é de 12.600 megawatts.