C&T em prol da cidadania (*)
Dalira Lúcia Cunha Maradei Carneiro (**)
Nos últimos anos, vários estudos vêm sendo realizados com o intuito de apontar o caminho para se diminuir o gap entre o mundo da ciência e a sociedade. A interação entre a comunidade em geral e o conhecimento científico e tecnológico gerado nas universidades e institutos de pesquisa é uma busca constante que atinge praticamente todos os países do mundo. O direito à informação prenunciado na Declaração Universal dos Direitos Humanos divulgada pela ONU, em 1948, justifica a importância e a necessidade de se divulgar Ciência e Tecnologia (C&T) para a população, buscando a democratização do conhecimento e, conseqüentemente, diminuir o analfabetismo científico que atinge povos do mundo inteiro.
O Brasil entrou no cenário internacional da divulgação científica com a realização da III Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, ocorrida na cidade de São José dos Campos(SP), em novembro de 2002. O evento, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), juntamente com o 7.º Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico, teve como tema geral "Jornalismo Científico e Desenvolvimento Humano". Na ocasião, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) esteve representada com apresentação do trabalho "Repórter UFU - Uma experiência televisiva de divulgação científica na Universidade Federal de Uberlândia".
O trabalho, fruto de um projeto desenvolvido na TV Universitária da UFU, no período de julho de 1999 a março de 2001, foi selecionado e aprovado entre 80 trabalhos submetidos por autores jornalistas, professores, pesquisadores e estudantes de diversas instituições brasileiras, de países da Europa e América Latina. O objetivo foi divulgar as experiências profissionais e
acadêmicas desenvolvidas na área de Jornalismo Científico no Brasil e em diversos países.
O interesse pela divulgação científica vem crescendo no país. Os avanços do conhecimento e as inovações que deles derivam, e que, por vezes, provocam desconfiança e medo na população, têm feito com que jornais, revistas e redes de televisão procurem transmitir o real significado de tais transformações. Existe, portanto, uma demanda reprimida de divulgação de C&T no Brasil. Esta demanda foi amplamente comprovada pelo trabalho publicado em 1987, intitulado "O que o brasileiro pensa da ciência e tecnologia". A pesquisa feita pelo Instituto Gallup de Opinião Pública, a pedido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), única realizada até hoje no país, revelou que 70% da população urbana brasileira têm interesse em C&T.
Ciência e Tecnologia constituem a mola mestra que impulsiona o processo de desenvolvimento econômico e social das nações. Não há dúvida sobre a relevância da C&T para a sociedade contemporânea. E o conhecimento é hoje o elemento fundamental para a geração de desenvolvimento. Neste contexto, entra a máxima representação da divulgação científica, que, além de contribuir para a democratização do conhecimento, aproxima o cidadão comum dos benefícios que ele tem o direito de reivindicar para a melhoria do bem-estar social, dando-lhe uma visão mais clara sobre as verdadeiras causas e efeitos dos problemas que enfrenta no dia-a-dia.
Não se deve perder de vista que a divulgação científica assume papel imprescindível na intermediação entre o mundo cotidiano das pessoas e o mundo distante e aparentemente incompreensível da ciência. Daí a necessidade da parceria entre jornalista e pesquisador, para que as informações relacionadas à ciência não fiquem presas somente a espaços e grupos de
pessoas específicos, mas que cheguem até a sociedade numa linguagem apropriada, acessível ao público leigo, envolvendo, com freqüência, suas implicações éticas, sociais e políticas. De modo que, por exemplo, a comunidade em geral possa discutir, antes que se torne realizável, o
significado real e moral da clonagem humana.
Mostrar à sociedade o trabalho realizado em C&T é dar uma satisfação pública do dinheiro investido em pesquisas, pois a maior parte dos investimentos feitos em C&T no Brasil é oriunda dos cofres públicos, mantidos pela própria sociedade. Outra necessidade apontada por estudiosos da área é a de se estabelecer um diálogo amplo entre a comunidade científica e a sociedade, para promover uma reflexão sobre a política científica do país. A idéia é fazer com que a população tenha, de fato, condições de influir com conhecimento em decisões e ações políticas ligadas à C&T.
Como a divulgação científica desperta o interesse da sociedade, ter o apoio dela é, sem dúvida, a melhor maneira de garantir a continuidade e o crescimento da pesquisa no país. Além disso, ao disseminar o conhecimento e a técnica, contribui-se para a construção de uma sociedade cidadã; ou seja, ética, sustentável e solidária.
(*) Artigo original da revista Fapemig
(**) Dalira Lúcia Cunha Maradei Carneiro é Jornalista da Diretoria de Comunicação da Universidade Federal de Uberlândia (Ufu) e mestranda em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp)