42 línguas indígenas faladas no Brasil correm perigo de extinção

04/05/2003 - 9h54

Brasília, 4/5/2003 (Agência Brasil - ABr) - Pelo menos 42 das quase 160 línguas indígenas do Brasil estão em perigo de extinção por causa do número reduzido de usuários ou da falta de transmissão às novas gerações.

Para Denny Moore, coordenador da área de lingüística, da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, "a documentação dessas línguas é urgente, como também medidas para revitalizá-las. As comunidades indígenas, conscientes da necessidade de preservar a sua herança cultural e lingüística, desejam projetos nesse sentido".

Apesar do tamanho reduzido, a área de lingüística do MPEG vem empenhando grande esforço para realizar esse tipo de documentação. Neste mês, o grupo de lingüistas do museu recebeu a boa notícia de que o projeto "Documentação de Cinco Línguas Tupi Urgentemente Ameaçadas", coordenado por Denny Moore e elaborado em co-autoria com Ana Vilacy Galucio, foi aprovado pelo Endangered Languages Documentation Programme, o programa de documentação de línguas ameaçadas da Inglaterra.

O projeto receberá 57.840 libras (quase R$ 3 milhões) para realizar, em três anos, a documentação das línguas Puruborá, Mekens, Ayuru Mondé (Rondônia) e Xipáya (Pará). O grupo responsável pela documentação é formado pelos pesquisadores Ana Vilacy Galucio, do MPEG, que fará o registro documental das línguas Puruborá (três semi-falantes) e Mekens (23 falantes); Carmen Rodrigues, da Universidade Federal do Pará, responsável pela Xipáya (um falante); Didier Demolin, pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas, que documentará a língua Ayuru (10 falantes); e Denny Moore, do Museu Goeldi, responsável pelo registro lingüístico da Mondé (três semi-falantes).

O projeto venceu um processo de julgamento bem rigoroso em competição internacional. Dos 150 concorrentes, somente 21 foram aprovados. Duas outras propostas dos ex-bolsistas do Museu Goeldi Sidney Facundes (UFPA, língua Apurinã) e Eduardo Ribeiro (UFGO, língua Ofayé) também foram aceitas na mesma seleção. Além desses projetos, no Brasil, o estudo de Filomena Sandalo (Unicamp, língua Kadiwéu) foi incluído em um outro projeto, coordenado por Veronica Grondona, da Argentina e dos EUA.

O programa DOBES, da Fundação Volkswagen (Alemanha), também financia projetos de documentação intensiva de línguas. Com recursos desse programa, estão em andamento os projetos Kuikuro (Bruna Franchetto, Museu Nacional), Aweti (Sebastian Drude, MPEG e Universidade Livre de Berlim) e Trumai (Raquel Guirardello, MPEG e Instituto Max Planck). Um novo foi acrescentado recentemente para a documentação das línguas Tiriyó, Mawé e Bakairi, coordenado por Sérgio Meira (MPEG e Universidade de Leiden).

De acordo com Deny Moore, esses projetos de documentação são importantes por trazerem recursos financeiros para apoiar pesquisas e trabalho prático no Brasil. Também trazem novas tecnologias e metodologias de documentação, que vêm fortalecendo o desenvolvimento científico no País e beneficiando as comunidades indígenas.

O Museu Paraense Emílio Goeldi foi criado em Belém, em 1866, por idealistas que acreditavam no futuro da Amazônia e da necessidade de se pesquisar os seus recursos naturais, a flora, a fauna, as rochas e minerais, os grupos indígenas, a geografia e a história da região.