Quito (Equador), 15/1/2003 (Agência Brasil - ABr) – A iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de criar um grupo de países amigos da Venezuela para trabalhar junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) na busca de soluções para a crise no país vizinho, teve um resultado diferente do proposto inicialmente pelo Brasil. O grupo formado e composto por Brasil, Estados Unidos, Mexico, Chile, Espanha e Portugal foi batizado de "amigos do secretario-geral da OEA" e não mais do país governado por Hugo Chavez.
A mudança no resultado final, no entanto, parece não ter desagradado o governo brasileiro. O chanceler Celso Amorim, que participou da "mini-cúpula" de hoje no Equador, caracterizou a criação do grupo como uma vitória diplomática do processo democrático do secretário-geral da OEA, Cesar Gaviria. "Esperamos uma vitória do povo venezuelano", disse.
Os sinais de que a reunião teria um bom resultado começaram cedo. Hugo Chavez desembarcou no Equador, classificando a inciativa brasileira de "extraordinária" porque vislumbrou a possibilidade de o grupo dar um novo enfoque para a integracao da América Latina. O bom sinal, no entanto, veio mais tarde, justamente do país do qual se esperava maior resistencia: os Estados Unidos.
O enviado especial do Conselho de Seguranca Nacional dos Estados Unidos para América Latina, Otto Reich, garantiu que achava a iniciativa de criação do grupo "interessante", desde que trabalhasse em conjunto com a Organização. O resultado acabou sendo melhor que o esperado por Reich: os Estados Unidos foram incluidos no seleto grupo, assim como a Espanha e Portugal. A exclusão de outros países sul-americanos, exceto o Chile, no grupo foi explicada com um cálculo simples pelo chanceler brasileiro. "Queriamos um grupo pequeno", disse.
Tanto Amorim quanto Gaviria insistiram várias vezes em que o grupo deve auxiliar os trabalhos da OEA, que já trabalha na Venezulea a convite do governo e da oposição daquele país. A insistência tinha como objetivo esclarecer que nem o grupo, nem a Organização querem o risco de serem considerados intervencionistas. "O Brasil é muito zeloso do princípio da não intervenção e da não ingerência. Essa é uma iniciativa para ajudar a OEA em algo que trabalha porque já havia sido convidada", disse o chanceler. "Em momento algum se pode falar de intervenção. Reconhecemos que só os venezuelanos podem chegar a um acordo", arrematou Gaviria.
Agora é hora de partir para o trabalho de facilitar o diálogo entre a oposição e o governo da Venezuela que, apesar de terem convidado a OEA para ajudar no fim dos conflitos, parecem não ter a mínima intenção de entrar em entendimento. Datas e locais de reunião, no entanto, não foram adiantados. A única novidade está no fato de que todos os países que participaram do encontro de hoje concordaram com o envio de um representante da Organizacao das Nações Unidas (ONU) para colaborar com o trabalho do grupo, mesmo sem fazer parte dele.
Gaviria comentou os trabalhos em curso sobre a possibilidade de antecipação do referendo que determina a permanência de Hugo Chavez na presidência da Venezuela. Ele lembrou que, como a OEA busca uma solução constitucional, ela está em conversa com a oposição e a situação venezuelana, para ver a possibilidade de realizar uma reforma ou emenda constitucional para solucionar o tema. "As duas partes estão trabalhando para encontrar uma saída. Uma solução boa na Venezuela é aquela em que há acordo entre o governo e a oposição", resumiu.
A constituicao da Venezuela diz que o referendo pode ser realizado a partir de agosto e não permite antecipações, o que só pode ser mudado com uma reforma constitucional. A Venezuela enfrenta há 44 dias uma paralisacao geral, que já compromete o setor petrolífero do país, considerado o segmento econômico mais importante da Venezuela.