Projeto de democratização da obra de Portinari é apresentado no Complexo do Alemão

22/02/2013 - 20h31

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A Praça do Conhecimento, espaço de inclusão social e digital da comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na zona norte da capital fluminense, foi o local escolhido para a apresentação hoje (22) do Portinari para Todos, proposta do novo portal do Projeto Portinari (www.portinari.org.br).

O trabalho é resultado de 33 anos de pesquisa. Foi feito um levantamento completo e uma catalogação minuciosa da obra do pintor Candido Portinari, que está 95% indisponível ao público em coleções privadas. A coordenadora-geral do portal, Maria Duarte, disse que o projeto conseguiu localizar mais de 5 mil obras, entre pinturas, gravuras e desenhos. E agora está tudo disponível para consulta na internet.

“A gente brinca que começou a trabalhar no projeto há 33 anos. Mas, efetivamente, ele começou a ser idealizado há dez anos, quando a gente estava organizando a celebração do centenário de Portinari. Infelizmente na época a gente não conseguiu levantar os recursos para fazer, já que não é um projeto simplesmente de web, de interface para o público em geral. Ele tem uma parte de base muito importante, muito complexa que fala diretamente com o acervo do Projeto Portinari.”

O acervo conta com cerca de 30 mil itens, entre obras, cartas, fotografias e depoimentos relacionados ao pintor e também a personalidades que conviveu com Portinari como Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Luís Carlos Prestes e Afonso Arinos. De acordo com Maria Duarte, a ideia é que o visitante do portal tenha uma experiência de imersão na vida e na obra do pintor, em um conceito novo de disponibilização de conteúdo na web.

“Eu não estou falando de um portal que simplesmente é um formulário que você preenche para acessar o acervo de um artista. Ele traz uma nova premissa, de experiência sobre o acervo. Eu quero que o usuário mergulhe nesse acervo, que ele se perca nesse acervo.”

A capa do portal traz um mosaico com a obra completa de Portinari. Além do menu tradicional, com informações institucionais, biografia e créditos, é possível fazer buscas no acervo usando filtros como tema das obras, suporte, técnica ou mesmo cor e busca por palavras aleatórias. “O portal traz o lado lúdico. Se você chama uma criança e fala 'vamos olhar um acervo', ela vai dizer 'prefiro jogar futebol'. Então, se ela gosta de futebol, vamos buscar aqui 'futebol', e vai aparecer um mosaico com obras de Portinari sobre futebol”, explicou.

De acordo com ela, o projeto do portal é único. “A gente fez uma busca e não há no mundo um site de um artista, sobre a obra de um artista, tão complexo, tão estruturado como o que a gente está lançando. A gente foi muito feliz em ousar, em sair do tradicional de pesquisa de acervo e pensar de que forma apresentar esse acervo ao grande público”.

O menino Gabriel Ramos de Oliveira, de 10 anos, gostou do portal, apesar de não conhecer a obra de Portinari. “É legal, mas os quadros são meio esquisitos”, disse.

A técnica de enfermagem Jurema da Conceição já tinha visto uma exposição do artista, mas com o portal gostou de conhecer outros quadros. “Achei ele incrível, porque conseguiu refletir a nossa realidade, lá no passado, mas contemporânea hoje. Reflete muito as características do povo e a personalidade de um homem muito à frente da sua época, porque o que pintou ontem, não mudou, continua atual.”

Maria Duarte lembra que Portinari foi quem mais pintou o seu próprio país. “É um pintor que deixou para a gente mais de 5 mil obras sobre o Brasil, sobre a nossa identidade, sobre a nossa cultura. Eu acho que conhecer Portinari é se conhecer, é conhecer o nosso país, o nosso Brasil”.

Candido Portinari nasceu em 1903, em uma fazenda de café perto de Brodowski, em São Paulo, filho de imigrantes italianos de origem humilde. Começou a pintar aos 9 anos de idade e, aos 15, se mudou para o Rio de Janeiro e se matriculou na Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1928, ganhou como prêmio uma viagem à Europa, onde decidiu pintar sua terra natal.

O pintor participou ativamente da elite intelectual brasileira na época em houve uma grande mudança na atitude cultural, quando a estética passou a refletir os problemas do mundo e a realidade do país. Na década de 1950, pintou os painéis Guerra e Paz para a seda da Organização das Nações Unidas (ONU). Portinari morreu em 1962, em consequência de intoxicação por tintas.

 

Edição: Aécio Amado

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