Picos de calor mantêm média histórica de fim de inverno no Sudeste brasileiro

10/09/2012 - 19h40

Guilherme Jeronymo
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Apesar de terem chegado a 38 graus Celsius no fim de semana, as temperaturas no Sudeste do país não fogem à média histórica do fim do inverno, e o clima não apresentará grandes variações até o começo da primavera, na segunda quinzena deste mês, afirmam especialistas ouvidos hoje (10) pela Agência Brasil.

O período tem apresentado frequência atípica de frentes frias, abaixo do normal, embora a média dos meses anteriores tenha ficado dentro das variações históricas, informou o meteorologista Olívio Sacramento Neto, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele disse que houve ligeiro aumento das chuvas em agosto nos estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Espírito Santo, e temperaturas dentro da normalidade.

“Nós tínhamos na região a atuação de uma massa de ar seco. Os ventos que sopraram do oceano vieram de forma mais intensa, compensando a baixa penetração das frentes frias”, explicou Sacramento. Segundo ele, o único estado da Região Sudeste com temperaturas atípicas foi São Paulo, que não recebeu influência das correntes de ar marinho.

As temperaturas acima da média ficaram restritas ao período entre os dias 5 e 9 deste mês, período em que os ventos oceânicos se deslocaram para o Norte, atingindo o norte da Bahia e o litoral do Espírito Santo. De acordo com Sacramento, a tendência é ocorrerem poucas chuvas até o início da primavera.

“São valores extremos, mas não são anormais. Já tivemos registros de temperaturas mais elevados nos primeiros dez dias de setembro”, ressaltou a meteorologista Michelle Lima, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Michelle citou medições do Inmetro no Rio de Janeiro que apontaram para a manutenção do tempo quente e seco na região, com umidade relativa do ar entre 25% e 35% no começo deste mês, próximas dos níveis de alerta (20%).

De acordo com Michelle, a umidade deve subir a partir de amanhã (11), com a aproximação de uma frente fria, que se desloca do sul para o norte do litoral brasileiro, provocando nebulosidade, que deve ceder, com novo aumento das temperaturas após o fenômeno, mas sem afetar o continente. A situação só melhora em definitivo com a chegada da próxima estação, completou a meteorologista.

O clima seco, característico do território fluminense entre maio e setembro, aumenta o risco de incêndios e queimadas, alertou a professora Mônica Senna, da Universidade Federal Fluminense. “A região pertence ao domínio da Mata Atlântica, onde aproximadamente 50% das árvores perdem as folhas na estação seca. Somam-se a isso fatores antrópicos [causados pelo homem] e naturais, e temos nesta época do ano uma grande incidência de incêndios florestais.”

O período quente e seco traz riscos para a vegetação nativa, que tem dificuldade para suportar tais pressões. “É difícil separar quanto deste impacto é devido às interferências humanas e quanto é causado pela variabilidade climática. A Mata Atlântica desenvolveu, no decorrer de sua evolução, mecanismos que permitem recuperar seu ponto de equilíbrio. A longo prazo, esse limite pode ser ultrapassado, dependendo do grau de perturbação que o homem provoca no ecossistema”, disse a professora.

A meteorologista Ester Regina Ito, do Grupo de Previsão Climática do Inpe, descartou a possibilidade de grandes variações até o fim do ano. “Não temos a confirmação de qualquer fenômeno no Pacífico. Estamos caminhando para uma possível configuração de El Niño para os próximos meses, mas ela ainda não está concluída. O impacto [do fenômeno] também não é imediato, ocorre com um certo atraso. Aos poucos, as águas estão mais aquecidas e a atmosfera está caminhando para isso”, explicou meteorologista. 

Edição: Nádia Franco