Camila Maciel
Enviada Especial da Agência Brasil
Itaoca (SP) – Com uma vocação econômica voltada para a pecuária de corte e de leite, o município de Itaoca registra um prejuízo de pelo menos R$ 3,5 milhões, segundo estimativa da prefeitura, depois da enxurrada que devastou a cidade no último domingo (12). Até momento, 12 mortes foram confirmadas. “Isso somando perda de patrimônio, produção, sem calcular a parte urbana. Deve chegar a mais de R$ 7 milhões, se juntar tudo. Vamos precisar de ajuda para nos reerguer”, disse o prefeito Rafael Camargo. O Produto Interno Bruto (PIB) do município é R$ 16,3 milhões.
Na divisa com o Paraná, Itaoca fica a aproximadamente 360 quilômetros (km) de São Paulo. O acesso pode ser feito pela Rodovia Régis Bittencourt, passando pela cidade de Registro, ou pelas rodovias Raposo Tavares e Castello Branco, nas proximidades de Sorocaba. Chegando a Apiaí, município a 20 km, um caminho tortuoso na serra leva a pequena cidade no Vale do Ribeira. Com pouco mais de 3,3 mil habitantes, a tragédia marcou os moradores neste início do ano.
Um dos comerciantes que contabiliza prejuízos é Jaime Silva, de 67 anos. O mercado, que funciona na rua principal da cidade há seis anos, foi inundado pela água do rio, que chegou a pelo menos 1 metro e meio, conforme a marca na parede. “Foi perda total. Perdemos pelo menos uns R$ 250 mil”, calculou. Ao lado do armazém, a casa dele também foi tomada pelas águas e não restou um móvel em bom estado. “Na hora da enxurrada, minha mãe [de 87 anos] ficou flutuando em cima de uma cama. Também tinha eu, minha esposa e uma filha. A gente subiu nos móveis e esperou baixar”, relatou. A família está abrigada na casa de parentes.
Além do mercado, Jaime informou que também perdeu algumas cabeças de gado. “Nunca vi nada parecido como isso aqui. A enchente de 1997 foi bem menos do que essa”, relembrou. Segundo relato de diversos moradores, naquele ano, a ponte central da cidade também foi afetada e não suportou a força da chuva, arrebentando. Ainda de acordo com os habitantes de Itaoca, a ponte foi refeita no ano seguinte com concreto na base e reforço das pilastras.
O governo estadual avalia que a tragédia foi uma excepcionalidade, pois a obstrução na ponte sobre o Rio Palmital fez com que ele desviasse o curso e atingisse as casas. “Houve deslizamento de uma serra, que trouxe grandes árvores, e quando chegou à ponte, a ponte antiga, cheia de pilares, aquilo formou um dique, e o rio saiu do leito. Formou um outro rio do lado, levando as casas de um bairro”, disse o governador Geraldo Alckmin, ao visitar a cidade ontem (14).
O prefeito de Itaoca espera que a reconstrução da ponte, anunciada pelo governo do estado, impeça novos desastres. “[Depois de 1997], fizeram [a ponte] mais firme, mas, ainda assim, foi um problema, porque ela não cedeu. Agora vai ser mudada toda a ideia da estrutura da ponte. Vai ser feita em arco, sem apoio em baixo, para facilitar o fluxo do rio”, declarou. Ele também avalia que o caso foi excepcional, pois não havia registros frequentes de problemas com cheia do Palmital. “Não subestimamos [o rio]. O excesso de árvores contribuiu também para que tudo ficasse retido. As árvores também formaram uma trincheira, tirando o peso da ponte e represando a água”, disse.
Edição: Aécio Amado
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