Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Itaoca (SP) – Levou menos de 30 minutos, depois que começou a chuva no município do Vale do Ribeira, para que a funcionária pública Salene Martins, 36 anos, tivesse que sair pelos fundos da casa, já com água na cintura. “Foi muito rápido. Ouvi o barulho do rio muito forte, vi que a ponte estava cheia de entulho. Só deu tempo de pular o muro e me alojei com o meu filho em uma firma aqui perto”, relata, ao conferir os estragos que a enxurrada do último domingo (12) deixou na casa dela. Nos arredores, o cenário é o mesmo: paredes caídas, móveis retorcidos, muita lama, além do lamento pelas 12 mortes já confirmadas na tragédia.
A casa de Salene, no centro da cidade, fica a poucos metros da ponte sobre o Rio Palmital, que foi obstruído nesse ponto com entulhos levados pela enxurrada. Segundo avaliação dos governos estadual e municipal, um emaranhado de galhos de árvores que ficou retido na ponte principal do município mudou o curso do rio, provocando a inundação da cidade. De acordo com a Defesa Civil Estadual, a tromba d'água que atingiu o Palmital teve origem nas serras onde estão os afluentes que alimentam o rio. “Foram 200 milímetros em cinco horas”, apontou o coordenador do órgão, coronel Aurélio Alves Pinto.
Também a poucos metros do rio, Rosicléia Monteiro, 28 anos, retorna à casa onde vivia com os pais para tentar encontrar algum mantimento que tenha resistido à chuva. “Não restou nada. Só a carcaça. Vamos ter que começar do zero”, relatou. Por enquanto, a família está abrigada na casa de parentes. Apesar do prejuízo, ela considera que teve sorte. “Só perdemos bens materiais. A última grande enchente aqui foi em 1997. Naquela época, a ponte rodou [foi levada pela enxurrada] e não causou tantos prejuízos”.
A família de Daiane Machado, 27 anos, por outro lado, não teve tempo de se abrigar. A casa, em que a mãe, a irmã, o cunhado e os dois sobrinhos estavam, foi carregada com a força das águas. A jovem veio de Sorocaba para acompanhar as buscas pelos parentes. “Até agora só encontraram minha irmã e minha sobrinha. Nem consegui chegar a tempo, já tinham enterrado”, contou. A família morava em Lajeado, um bairro que fica a cerca de seis quilômetros do centro de Itaoca, mas que foi bastante afetado pela tromba d'água.
As pontes que existiam nessa comunidade foram destruídas e, agora, o deslocamento dos moradores é feito pelo rio, com a água na cintura. É o caso de Aurélio Petris, 40 anos, que não sabe como vai fazer para chegar ao trabalho, pois o deslocamento era feito de carro pela ponte. “Sou operário de uma fábrica de cimento. Não sei como vou me locomover. Dá uns seis quilômetros daqui”, disse. Enquanto aguarda o retorno do trabalho, ele, que perdeu dois parentes na tragédia, ajuda, como voluntário, carregando mantimentos e água para os vizinhos.
De acordo com a prefeito de Itaoca, Rafael Camargo, as pontes serão refeitas, mas não haverá mais pilastras de alvenaria na base delas. “Agora vai ser mudada toda a ideia da estrutura da ponte. Vai ser feita em arco, sem apoio em baixo, para facilitar o fluxo do rio”, prometeu. Ele informou ainda que a ponte do Lajeado já era em forma de arco, mas que a altura dela foi insuficiente para não ser atingida pela água.
O último balanço da Defesa Civil, divulgado às 20h de ontem (14), contabiliza, além das 12 mortes, oito pessoas desaparecidas. Segundo a Defesa Civil, 19 casas foram destruídas totalmente. A maior parte das famílias desabrigadas, um total de 83, foi para a casa de parentes e amigos. Apenas três famílias estão em escolas da prefeitura. Cerca de 80% da cidade já tiveram a energia restabelecida, mas o fornecimento de água ainda está sendo feito, em sua maior parte, por meio de caminhões-pipa.
Edição: Graça Adjuto
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