Gávea é o bairro mais importante na geografia do carioca Vinicius de Moraes

18/10/2013 - 20h10

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil 

Rio de Janeiro - Na definição de Ruy Castro, em seu livro Rio Bossa Nova – Um Roteiro Lítero-Musical, Vinicius de Moraes era “um carioca radical, mas que por razões profissionais, amorosas e outras, levou a vida em trânsito – sempre do Rio para outra cidade e vice-versa”. Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913 em uma casa da Rua Lopes Quintas, no atual bairro do Jardim Botânico, na época considerado parte da Gávea. 

Morreu em 9 de julho de 1980 também em uma casa, no mesmo bairro da Gávea. A casa onde o poeta nasceu não existe mais – deu lugar a um edifício – mas a última residência ainda está de pé, na Rua Frederico Eyer, 149.

“Sou carioca da Gávea, bairro amado, de onde nunca deveria ter saído", disse Vinicius, em versos escritos em 1969. A Gávea, portanto, é o bairro mais importante na geografia carioca do poeta, que acabou sendo mais associado à Ipanema, onde hoje é nome de rua.

Em função dos estudos e da carreira diplomática, Vinicius morou em Oxford, Londres, Los Angeles, Paris, Montevidéu e Roma. Nos períodos em que retornava ao Brasil, entre um posto e outro na carreira, os nove casamentos levaram o poeta a mudanças de endereço no Rio ou mesmo a viver em outra cidade. Quando esteve casado com a baiana Gesse, de 1969 a 1975, ele residiu em Salvador. 

Foi quando morou em Ipanema, em uma casa em estilo normando na Avenida Henrique Dumont, 15, que Vinicius viveu a fase que marcou o surgimento de sua parceria com Antônio Carlos Jobim, iniciada com a composição das músicas para a peça Orfeu da Conceição, de autoria do poeta. Tom morava no mesmo bairro, no famoso endereço da Rua Nascimento Silva, 107, mas o primeiro encontro entre os dois se deu no centro do Rio, no Bar Villarino, na Avenida Calógeras, 6. 

Embora a inspiração para a canção Garota de Ipanema tenha surgido quando Tom e Vinicius bebiam no Bar Veloso, na esquina da então Rua Montenegro com a Rua Prudente de Moraes, o poeta, na época [1962] não residia mais no bairro e sim em um prédio modernista projetado por Lúcio Costa, no Parque Guinle, em Laranjeiras. Então casado com Lúcia Proença, sua quarta mulher, o poeta se dividia entre o apartamento no Rio e a casa também modernista – projetada por Oscar Niemeyer – que tinha em Petrópolis, na região serrana fluminense. 

Os dois endereços foram marcantes para a imensa contribuição do poeta para a música popular brasileira. Neles, Vinicius escreveu para Tom, além de Garota de Ipanema, as letras de Ela é Carioca, Insensatez, Água de Beber, O Morro Não Tem Vez, Só Danço Samba e O Amor em Paz. Para outro grande parceiro, Carlos Lyra, Minha Namorada, Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, Samba do Carioca, Primavera, Maria Moita, Você e Eu e Sabe Você. E com Baden Powell, Samba da Benção, Berimbau e Consolação

Com a quinta mulher, Nelita Abreu Rocha, Vinicius morou em Paris e, de volta ao Rio, em um apartamento de cobertura na Rua Diamantina, 20, no Jardim Botânico. Foi a partir dessa época que o poeta e compositor começou a se tornar cada vez mais um artista de palco, fazendo shows por todo o país e no exterior.

Na infância, Vinicius acompanhou as constantes mudanças da família Moraes pela cidade do Rio de Janeiro. Somente em Botafogo foram cinco endereços: Rua da Passagem, 100; Rua Voluntários da Pátria, 192 e 195; Rua 19 de Fevereiro, 127 e Rua Real Grandeza, 130. De 1922 a 1929, a família morou na Praia do Cocotá, 109, na Ilha do Governador, zona norte da cidade.   

Da Ilha do Governador, a família retornou à Rua Lopes Quintas, para uma casa no número 110, pertencente aos avós maternos e vizinha da casa onde o poeta nasceu. E dali a família se mudou para o número 87 da Rua das Acácias, na Gávea, onde a mãe de Vinicius, Lydia Cruz de Moraes, continuou morando até morrer, em 1968. O pai, o funcionário público Clodoaldo Pereira da Silva de Moraes, morreu em 1950.

Entre uma mudança e outra, Vinicius sempre tinha na Rua das Acácias seu refúgio. Hoje, com 97 anos, a irmã Laetitia, mais conhecida como Leta, ainda reside na casa paterna. Outro irmão ainda vivo, Helius, de 95 anos, mora no mesmo bairro.

 

Edição: Aécio Amado

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