Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Uma brincadeira que acabou virando caso de polícia. É o que sugere o autor do blog Joselito Müller – Jornalismo Destemido sobre as consequências de ter publicado um texto informando que a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, ficou comovida ao ver um vídeo em que um bandido é baleado por um policial durante tentativa de assalto em São Paulo.
Interpretado por muitas pessoas como uma notícia verdadeira, o texto foi amplamente reproduzido nas redes sociais, levando a ministra a acionar a Polícia Federal (PF) e a anunciar a intenção de processar o blogueiro, além de pedir que a página do blog seja tirada do ar.
O autor do blog acredita que seus leitores sabem que, geralmente, ele escreve "pilhérias”, reconhecendo, contudo, que muita gente tomou a piada como verdade. “Mas isso é algo que independe da minha vontade”, disse em entrevista à Agência Brasil.
O blogueiro, que prefere não revelar seu verdadeiro nome e profissão, informou apenas que mora em Natal (RN), onde sua identidade já é conhecida devido a um caso parecido ocorrido em maio deste ano. Na ocasião, o blog atribuiu à senadora Ana Rita (PT-ES) a autoria de um projeto de lei que criaria uma bolsa de R$ 2 mil mensais para prostitutas. A proposta jamais existiu, mas a falsa notícia acabou reproduzida não só nas redes sociais, mas em veículos de imprensa de grande circulação.
A repercussão motivou Ana Rita a acionar a Polícia Federal, a Procuradoria Parlamentar do Senado e o Ministério Público Federal. A senadora ingressou com ação judicial por danos morais e quebra do sigilo eletrônico do blogueiro, pedindo que a falsa matéria postada por ele fosse tirada do ar. O juiz oficiou o Facebook e o Wordpress (onde o blog está abrigado).
"As medidas tomadas contra esse senhor não podem ser consideradas, em hipótese alguma, censura ou cerceamento à liberdade de expressão", declarou a senadora à Agência Brasil. "Ele se utiliza de critérios jornalísticos para espalhar inverdades país afora. Muitos veículos deram a notícia como verdadeira e a repercutiram nas mais variadas regiões do Brasil, causando um enorme prejuízo a mim e ao nosso mandato, dado o trabalho que tivemos para responder a todas as notícias falsas. Esse tipo de caso deve ser tratado de forma exemplar, para que outras pessoas não sejam vítimas de práticas irresponsáveis dessa natureza”, concluiu a senadora.
Em junho deste ano, um texto de grande repercussão do mesmo blog envolveu o Ministério da Cultura, acusado de gastar R$ 4 milhões para construir um Memorial do Funk. O texto, escrito como todos os outros como se fosse uma notícia real, atribuía a um porta-voz da pasta a declaração de que o governo pretendia ensinar estudantes a compor e a dançar funk, rap e hip-hop.
Sobre a falsa notícia envolvendo a ministra Maria do Rosário, publicada na terça-feira (15), o blogueiro disse que a ideia surgiu enquanto ele imaginava possíveis reações de alguns setores da sociedade diante do vídeo em que o policial paulistano alveja o assaltante.
“Como o Brasil vem sendo palco de situações surreais no campo político, resultado da explícita inversão de valores capitaneada por setores progressistas, qualquer mentira absurda se torna verossímil. Talvez por isso muita gente toma como verdade o que escrevo”, comentou o blogueiro, explicando que escolheu a ministra Maria do Rosário como personagem da falsa notícia porque, na sua avaliação, “ela representa muito bem os clichês a respeito do tema violência”.
O blogueiro garantiu não ter difamado a ministra e minimizou a chance de vir a ser processado. “Acredito que a Polícia Federal tem muito trabalho e que não é justo ficar perdendo tempo comigo. E nem é necessário acionar a PF, uma vez que me prontifiquei a informar meus dados. Basta pegar os dados que já estão no outro inquérito”, comentou o blogueiro, em alusão à polêmica com a senadora Ana Rita.
“Não faço parte de nenhuma conspiração 'liberal-fascista' que recebe grana para desestabilizar o governo por meio de mentiras”, concluiu o blogueiro à reportagem. A ministra Maria do Rosário não vai se pronunciar sobre os comentários do autor do blog.
Edição: Denise Griesinger
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