Mariana Branco
Repórter da Agência
Brasília – A crise política entre o Brasil e os Estados Unidos, que culminou na decisão da presidenta Dilma Rousseff de desmarcar a visita de Estado que faria àquele país em outubro, não trará alteração significativa à dinâmica econômica entre os países, conforme avaliação do professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Jorge. Segundo ele, Brasília e Washington têm uma relação tensa, mas consolidada no aspecto comercial. "Temos tensão comercial permanente com os EUA, assim como temos com a Argentina”, diz.
O especialista também não acredita em sanções aos norte-americanos em concorrências, como no leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal, marcado para 21 de outubro. “O nosso interesse é que haja a maior competição possível. Nessa questão do petróleo, em que o afã nacionalista fala mais alto, as empresas mais competitivas são as americanas. Temos que pensar que esse é um mundo em que empresas estão tentando invadir o site de governos e de outras empresas permanentemente. Elas [empresas norte-americanas] não precisariam recorrer ao governo [dos EUA] para isso [espionagem com fins econômicos]”, avalia, referindo-se à suspeita de que a NSA (Agência Nacional de Segurança, na sigla em inglês) teria espionado dados da estatal brasileira Petrobras com o objetivo de obter vantagem econômica para empresas americanas.
O especialista acredita ainda que o tema de um possível acordo comercial com os norte-americanos já dispunha de pouco espaço para avançar antes de o escândalo da espionagem vir à tona. Antônio Jorge destaca que, apesar de terem uma economia mais aberta do que a brasileira, os EUA não abrem mão de barreiras para produtos específicos como o etanol e o suco de laranja, cercados por um forte lobby interno. Além disso, em função do custo Brasil, a indústria local teria dificuldade em concorrer com produtos norte-americanos como os da linha branca em termos de preço.
“Parte do setor privado [brasileiro] não quer um acordo de livre comércio, porque estabelece concorrências desfavoráveis. Ao mesmo tempo, eles brigam para que o governo brasileiro abra novos mercados e os Estados Unidos são um deles. Foi uma opção brasileira deixar que a Alca [Área de Livre Comércio das Américas] não fosse adiante. Nos termos em que estava colocada, ela não interessava. Foi melhor abrir mercados no plano multilateral, por meio da atuação na OMC [Organização Mundial do Comércio]”, comenta o professor.
Em oposição à opinião do especialista, o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a crise política trará, sim, impactos econômicos. “Pensando como empresário, daria todo o apoio para que houvesse um acordo [comercial]. Não seria completamente amplo, mas um ponto de partida. É um mercado fundamental. O setor privado organiza missões, mas nunca houve missão comercial governamental aos EUA.”
Segundo Castro, a visita da presidenta Dilma não era específica para acordos comerciais, mas poderia gerar uma semente e, agora, não há o mesmo clima. “Nesse primeiro momento, houve uma decisão ideológica. Estava havendo aproximação e passou a haver distanciamento. Pode ser que volte-se a pensar ideologicamente.”
A Agência Brasil entrou em contato com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A CNI, que há duas semanas enviou uma missão comercial a Washington e contava com a manutenção da visita da presidenta Dilma Rousseff, informou por meio de sua assessoria de imprensa que não se pronunciará sobre o adiamento. O pedido de entrevista à Fiesp não foi respondido até o fechamento desta matéria.
Edição: Andréa Quintiere
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