Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O uso de crack pode estar diminuindo no Rio de Janeiro. O psiquiatra Paulo Telles, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), informou que embora os dados sejam muito locais e preliminares, o fato é que o número de usuários de crack atendidos vêm caindo nos últimos três anos. “Essa droga, há três anos, já representou mais de 50% dos atendimentos aqui e esse número, hoje, representa uma média de 30%”, disse o médico que já iniciou um estudo para entender os fatores que levaram a essa diminuição.
O Nepad é um centro de referência no tratamento de drogas e desenvolve há 28 anos pesquisas e trabalhos terapêuticos voltados para dependência química, com exceção a causada pelo álcool. Telles acredita que o motivo dessa redução seja o fato de o crack ter se mostrado altamente nocivo e pouco atraente para usuários de drogas.
“Não vejo o usuário de droga, de maneira geral, como uma pessoa que quer se matar. Ele quer buscar o prazer, o êxtase, sofrer menos, algo que funcione para ele ficar melhor de alguma forma”, ponderou o pesquisador. “A questão da degradação causada pelo crack é o que tem gerado essa queda”, defendeu.
Paulo Telles frisou que “a moda” do momento é um indutor ao consumo de drogas. O psiquiatra também citou outros fatores que levam a pessoa ao consumo de entorpecentes como o nível de tensão social e o preço da droga.
Telles disse que os primeiros atendimentos aos usuários de crack, no Rio de Janeiro, ocorreu em 2005. “No início do Nepad, a droga injetável era responsável por mais de 50% dos casos”, disse. Segundo ele, atualmente os atendimentos de usuários de droga injetável não passam de quatro ao ano. O uso da cocaína, entretanto, não sai de moda, ressaltou o psiquiatra.
O médico destacou, apesar da redução percentual de atendimentos às pessoas viciadas em crack, os números continuam altos. Ele defendeu que o combate ao crack deve ser enfrentado com políticas públicas que dêem resultado. “Tratamento para droga tem o percentual de êxito pequeno. No caso dos pacientes de crack a adesão é ainda menor, eles abandonam com mais facilidade o tratamento”, explicou o médico.
“O usuário de crack tem grau de escolaridade menor que os demais usuários. Muitos vivem nas ruas, não sabem nem o perigo que estão correndo com esse tipo de droga”, explicou ele. Telles disse que embora não “demonize” nenhum tipo de droga, o crack exige um cuidado especial.
Já a médica Valeska Antunes ponderou que levantamentos feitos em 2012 mostram que os casos de usuários de crack, na cidade, estagnaram. Ela trabalha no Programa Consultório na Rua, de Manguinhos, na zona norte, que oferece serviços de saúde à esta população.
“Não temos um estudo mais recente para poder comprovar isso, mas o que nos parece, pelo acompanhamento semanal do número de consultas e pelos levantamentos dos outros consultórios [na rua] é que não tem mais um crescente [do número de dependentes]”, comentou ela.
A região de Manguinhos, que já teve uma cracolândia, ainda concentra um grande número de dependentes de crack. A médica, acredita que uma das explicações para o fenômeno pode ser a criação de outras oportunidades de acesso para tratamento de crack.
Valeska Antunes lembrou que há alguns anos os únicos locais para tratamento de usuários de entorpecentes eram o Centro Estadual de Assistência sobre Drogas e o Nepad. Com o surgimento de outros locais para tratamento contra as drogas e acolhimento dos usuários, os casos podem estar pulverizados.
Edição: Marcos Chagas
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