Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A primeira unidade com novo modelo de acolhimento a crianças e adolescentes dependentes de drogas foi inaugurada hoje (12), em Bonsucesso, na zona norte da capital fluminense. O vice-prefeito e também secretário de Desenvolvimento Social, Adilson Pires, explicou que o Projeto Casa Viva vai inaugurar mais cinco unidades em breve, com computadores, acesso à internet, sala de jogos e acompanhamento médico e pedagógico, além de atividades de esporte, lazer e cultura.
“Serão cinco unidades iguais a esta, com capacidade de atendimento para cerca de 100 adolescentes [total], como não ficam todo o tempo no processo de reinseri-los na sociedade, temos a expectativa de, ao longo do ano, atender a cerca de 400 jovens neste modelo de acolhimento”, disse o secretário.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre as secretarias de Desenvolvimento Social, de Saúde e de Educação, além da organização não governamental (ONG) Viva Rio, gestora do projeto. O diretor executivo e fundador da Viva Rio, Rubem César Fernandes, acredita que o trabalho com adolescentes dependentes de drogas no Brasil é desafiador, pois há poucas experiências voltadas para esse público, mas que a proposta do Casa Viva é inovadora.
“Queremos que aqui seja realmente uma casa de morar. Aqui não é um abrigo, um lugar de confinamento para a pessoa ser obrigada a ficar abstinente. Quando a gente chega perto, vê que cada um é diferente, tem uma história diferente. Por isso, o foco é nas pessoas, uma abordagem personalizada”, disse Fernandes.
A primeira unidade tem vaga para 20 adolescentes entre 12 e 17 anos. Alguns já vivem na casa e participaram da inauguração. O adolescente Alan [nome fictício], 17 anos, que vive em abrigo há mais de dois anos para tratar o vício da cocaína e do crack, elogiou o novo espaço, sobretudo, a sala com computadores e internet e a televisão nova.
“Na outra casa era tudo muito quebrado, os jovens ficavam agitados, quebravam o vidro, mas aqui tem muita coisa, vídeo game, sala de jogos. Gosto de tudo”, comentou ele, que não vê a mãe há dois anos, mas disse que pretende vê-la em breve. “Mas o que mais gosto mesmo é da casa e dos meninos que estão aqui”, completou.
Semanalmente, os meninos debatem sobre a casa, as compras da semana, o cardápio, o orçamento entre outros temas. “Eles têm um papel ativo, não estão aqui como detentos, apenas consumindo”, disse o diretor do Viva Rio. “A Casa Viva de Laranjeiras era uma exceção, queremos que ela se torne regra”, comentou ele.
Mãe de um menino de 16 anos que está na casa há um mês, tratando do vício da cocaína, Cristina Gonzaga disse que o projeto tem dado apoio para as crianças e os próprios pais. “Têm várias atividades, cursos. Aqui tratam ele muito bem, como adolescente, como gente e ele tem ainda mais vontade de ficar. Ele estando bem é bom para nós”, comentou ela.
A cozinheira Sheila da Cruz Fonseca contou que os meninos da casa são comilões e carentes. “Eles preferem fritura, mas sempre tem legumes no cardápio”, comentou.
Rubem César adiantou que os parceiros estão discutindo a extensão do projeto para preparar os jovens para a maioridade. “Para que a casa não seja o fim da linha, estamos pensando em repúblicas. [Dar] treinamentos para que esses jovens gerenciem a própria casa ou uma república. O sucesso da recuperação é sair da rua e ter um lugar onde morar”, argumentou ele, que citou programas com esse foco existentes em cidades como Vancouver e Nova York.
Edição: Denise Griesinger
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