Douglas Corrêa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A carioca Rafaela Silva, 21 anos, vinda de um projeto social na Cidade de Deus, uma comunidade pacificada, na zona oeste do Rio, conquistou, hoje (28), o primeiro título mundial de judô de uma atleta brasileira, no Campeonato Brasileiro de Judô, que ocorre no Ginásio Gilberto Cardoso, o Maracanãzinho.
A judoca venceu, por ippon (pontuação máxima), a norte-americana Marti Malloy, na final, e a atual líder do ranking Automne Pavia, na semifinal. Com o apoio de cerca de cinco mil torcedores que fizeram do Maracanãzinho um caldeirão, Rafaela conquista a terceira medalha do Brasil na competição, a primeira de ouro, na categoria leve feminino (até 57 quilos).
“Hoje eu estou aqui mostrando que não depende de cor, dinheiro, de nada. Depende da vontade e da garra que a pessoa tem para buscar a vitória. Ainda não parei para pensar que sou campeã mundial, muito menos que estou escrevendo a história do judô brasileiro”, disse Rafaela Silva.
A atleta é resultado do trabalho do Instituto Reação, organização não governamental (ONG) criada pelo judoca Flávio Canto, na Cidade de Deus, comunidade do Rio de Janeiro. Ao lado de Flávio, o professor Geraldo Bernardes é um dos idealizadores do projeto e foi quem descobriu Rafaela.
“Quando criança ela era muito indisciplinada, só queria soltar pipa, jogar bola e brigar na rua. Por isso, o pai a levou para treinar. Aos 8 anos de idade, Rafaela começou a praticar judô e, ao logo do tempo, revelou um talento nato para o esporte, uma agressividade que poderia ser usada dentro do tatame. Este título estava engasgado desde os Jogos Olímpicos de Londres, pois ela tinha toda condição de ser campeã, e não foi [Rafaela foi desclassificada por ter aplicado um golpe proibido durante uma luta]. Se há algo de justo no esporte, é este título da Rafaela”, disse Geraldo Bernardes, primeiro professor de judô da atleta.
O atleta Flávio Canto, idealizador do Instituto Reação, que atua em comunidades pobres no Rio de Janeiro como a Rocinha, Pequena Cruzada, Cidade de Deus e Tubiacanga, disse que seu objetivo é a promoção do desenvolvimento humano e da inclusão social por meio do judô e de atividades complementares, como passeios culturais, atendimento fisioterapeutico, aulas de inglês e reforço escolar. Rafaela e a irmã Raquel se desenvolveram no projeto e atualmente são universitárias. Canto, que foi bronze nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, não se cansa de elogiar a dupla.
"Elas são as principais atletas do Reação. É surpreendente ver como elas se desenvolveram rápido. E as duas representam os dois caminhos que nós traçamos, unindo esporte e educação com sucesso".
Quem também se emocionou com a conquista inédita da judoca foi a treinadora da seleção brasileira de Judô, Rosicleia Campos. Na comemoração, Rosicleia lembrou da origem humilde e da garra de Rafaela. “Ela é uma guerreira dentro e fora do tatame. Este título mundial é mais do que merecido. Tanto a Rafaela como toda a equipe de profissionais que dão suporte para os atletas estão de parabéns. Viva a Rafaela e viva o judô brasileiro", comemorou.
Edição: Aécio Amado
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