Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília – O acidente ocorrido em março deste ano, no terminal portuário da mineradora multinacional Anglo American, em Santana, no Amapá, foi fruto de negligência e imprudência da empresa. É o que aponta o laudo do exame pericial elaborado pelo Departamento de Criminalística da Polícia Técnico-Científica do Amapá (Politec) a que a Agência Brasil teve acesso hoje (9). Quatro trabalhadores morreram, dois continuam desaparecidos e o local segue interditado.
No laudo, os cinco peritos apontam que o desmoronamento de parte do terreno onde a empresa Anglo American armazena milhares de toneladas de minério de ferro foi causado por vários fatores, tais como a sobrecarga de operações de transporte e embarque de minérios e o estoque de material próximo à margem do Rio Amazonas.
A principal causa, contudo, foi a ausência de estruturas de contenção adequadas junto à margem do terminal portuário. Segundo os peritos, essas estruturas serviriam para reforçar a estabilidade do solo e o talude construído pela empresa. O talude é uma espécie de contenção inclinada, feita no próprio terreno. No acidente, foi justamente o talude, cuja altura variava entre 20 metros e 40 metros, que desmoronou.
Com o deslizamento, não só a terra, mas parte da montanha de minério armazenado no topo do talude atingiu caminhões, guindastes, parte do escritório da empresa e arrastou para o fundo do rio seis trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino à China. De acordo com o laudo, o pátio de estocagem tinha capacidade para armazenar 288 mil toneladas de minério.
O impacto da queda do material na água gerou uma onda que atingiu o píer e embarcações. No entanto, os peritos foram taxativos ao afirmar que, ao contrário do que a Anglo American divulgou inicialmente, o acidente não foi causado por fenômenos naturais.
Os peritos também apontam que, até a conclusão do laudo, a empresa não havia entregue cópias dos projetos da obra portuária, da licença de construção e dos exames de ensaio de resistência do solo. Também não foram apresentados documentos ou registros atestando que os estudos prévios do solo, como testes de sondagens e de pesquisas geológicas, tenham sido feitos.
Próximo ao cais flutuante, a profundidade do rio varia entre 37 metros e 40 metros. Já o píer flutuante tinha nove metros de largura por 250 metros de cumprimento e era usado por embarcações que transportavam o minério vendido pela Anglo American a países do Oriente Médio, da Ásia e Europa.
Após o acidente, o empreendimento foi interditado por órgãos como o Ministério do Trabalho e Emprego, que avaliou que o local oferecia risco aos trabalhadores. O Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Estado do Amapá (Imap) multou a empresa em R$ 20 milhões, alegando que houve alterações graves na natureza. A multinacional está recorrendo da sanção.
Por e-mail, a Anglo American Brasil informou que ainda não foi notificada das conclusões da Polícia Técnico-Científica do Amapá e que, por isso, não vai comentar o assunto. A empresa garante estar colaborando com as autoridades responsáveis por investigar o acidente.
Edição: Denise Griesinger // Matéria alterada às 16h25 para acréscimo de informação
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