Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vai instalar hoje (10) sua Comissão da Memória e Verdade (CMV-UFRJ) para investigar excessos cometidos contras professores, funcionários e servidores da instituição entre 1946 e 1988. A cerimônia vai ocorrer às 18h30, no Salão Pedro Calmon, na Praia Vermelha, zona sul.
A sessão inaugural terá os testemunhos públicos de Jean-Marc Van der Weil, que foi presidente da UNE em 1969, e da jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart Angel, estudante desaparecido durante o regime militar de 1964, e filha de Zuzu Angel, cuja morte em acidente de automóvel pode estar vinculada à luta para denunciar o desaparecimento do filho.
A Comissão Estadual da Verdade (CEV) do Rio de Janeiro investiga a morte do estudante, torturado e assassinado na Base Aérea do Galeão, segundo testemunhas.
A comissão, que será assessorada por um grupo de trabalho, terá prazo de um ano para fazer o mapeamento e análise de documentos de arquivo relativos ao período, bem como a organização dos testemunhos públicos e das exposições de sensibilização, entre outras ações. O prazo poderá ser renovado por mais um ano.
O diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, Marco Aurélio Santana, um dos integrantes da comissão, explicou que já existe um conjunto de levantamentos que revela que durante a ditadura houve dezenas de cassações de cargos de professores, expulsões de alunos, além de torturas e até assassinatos de docentes e discentes da universidade.
“Pelo menos 25 professores e alunos estão na lista de mortos e desaparecidos do Grupo Tortura Nunca Mais. Além da violência, é preciso pensar também nos impactos institucionais do regime, pois grupos de pesquisas foram encerrados, cursos foram remodelados. Alguns estudantes expulsos não conseguiram retornar à universidade”, comentou ele. “É preciso pensar em políticas de reparação no interior desse conjunto muito plural e complexo de impactos causados pelo regime militar”.
O professor informou ainda que a comissão da UFRJ vai trabalhar em parceria com a Comissão Nacional da Verdade (CNV) e com outras comissões da verdade locais para trocar experiências, receber colaborações, como também oferecer resultados e propostas de reparação aos atingidos.
Além do diretor do IFCS, a comissão é composta pelo professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional; pelo diretor da Faculdade Nacional de Direito (FND), Flávio Martins; pela professora Cristina Riche, da Ouvidoria-Geral da UFRJ; pela diretora da Associação de Docentes da UFRJ, Luciana Boiteux; pelo diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), Luiz Pinguelli Rosa; pelo professor Luiz Davidovich, do Instituto de Física; pelo servidor da UFRJ Izaias Golçalves Bastos; pelo diretor do Instituto de Ciências Biológicas, Roberto Lent; e pelo aluno Afonso Menezes.
Santana adiantou que a UFRJ fará um memorial em homenagem aos estudantes mortos e desaparecidos pelo regime militar. O memorial será construído no campus da Cidade Universitária, zona norte, e a inauguração está prevista para o fim do ano, durante as comemorações pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos, que ocorre em 10 de dezembro.
Edição: Davi Oliveira
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir o material é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil
Comissão da Verdade discute medidas para exumação dos restos mortais de Jango
Comissão da Verdade discute medidas para exumação dos restos mortais de Jango
Delfim Netto depõe na Comissão Municipal da Verdade de São Paulo e diz que não sabia de tortura
Comissão da Verdade de São Paulo recebe relatos de psicólogos sobre a ditadura militar
Fonteles diz que deixará Comissão Nacional da Verdade por motivos pessoais
Militares vítimas da ditadura serão ouvidos pela Comissão da Verdade
Comissão da Verdade de São Paulo quer coletar assinaturas para pedir revisão da Lei de Anistia
Comissão da Verdade do Rio ouve historiadora que teve corpo usado em 'aula de tortura'