Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Cerca de 2 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, participaram hoje (30) de uma manifestação pacífica contra a impunidade. Movimentos contra a violência, parentes de vítimas e outros participantes usaram roupas pretas e começaram o ato no Parque do Povo, no Itaim Bibi, zona oeste da capital paulista. Em passeata, foram até o Parque Ibirapuera, onde encerraram o protesto.
Durante o chamado Dia D pelo Fim da Violência e Impunidade foram colhidas assinaturas para um documento que será encaminhado ao Senado e à Câmara dos Deputados.
O coordenador da campanha pelo fim da impunidade e pela união das vítimas de violência, Roberto Sekiya, explicou que o principal item da pauta é a mudança do Código Penal, com leis que combatam os crimes contra a vida. “Está ocorrendo agora a reforma do Código Penal e queremos a elevação das penas máximas de 30 para 50 anos, o aumento da pena mínima para o crime de homicídio simples de seis para dez anos, a elevação do tempo para a progressão de pena e a volta do exame criminológico para a concessão de benefícios penais. Hoje se liberta qualquer um sem nenhum critério, queremos que quem não tenha condição não volte à sociedade para cometer os mesmos crimes”, disse.
Maria Helena dos Santos Sampaio é mãe de Mário, morto no Guarujá em 31 de dezembro de 2012 pelo dono de um restaurante, após reclamar de uma diferença na conta. Ela veio de Campinas para compartilhar a dor da perda de um filho vítima de violência. “O meu grito hoje é: 'Chega de violência'. Precisamos de leis mais duras para os nossos jovens. Não estou falando só para adultos. Eu, como mãe, sou vítima dessa violência e fui condenada. Por que os bandidos não vão ser condenados?”.
Vanderleia Barbosa é irmã de uma vítima de assassinato, há nove meses, no Embu Guaçu, região metropolitana de São Paulo, e está revoltada com a demora nas investigações e por ouvir sempre que o inquérito está correndo em segredo de Justiça. Segundo ela, as informações sobre os assassinos existem, mas os investigadores nada fazem.
Depois de perder o filho de 35 anos, Alex Haush, em um acidente de carro, Maria Luiza se apoiou nas campanhas contra a impunidade para tentar diminuir a dor. De acordo com ela, Alex, que era médico, estava em uma hamburgeria com um colega de trabalho e quando entraram no carro para ir embora, outro veículo chegou no estacionamento e bateu no deles, do lado em que Alex estava, causando morte instantânea.
“Não há palavra no dicionário que possa expressar essa dor. Se usa imensurável, mas é pouco porque é uma dor que a gente dorme e acorda com ela. Para conseguir sobreviver, estou entrando nas campanhas em busca de tentar melhorar a situação para toda a sociedade. Por isso estamos aqui hoje. É inacreditável que uma pessoa mate outra e seja sentenciada com cinco anos de prestação de serviço”, comentou.
A presidenta da Associação Justiça É o Que se Busca, Sandra Domingues, informou que a organização acompanha 400 casos em todo o país, dando assessoria e apoio aos parentes. “Nosso objetivo é a reforma do Código Penal e a revisão da maioridade penal para que as vítimas não tenham que passar a vida toda implorando por justiça e direito à vida”. Ela destacou que a luta pela impunidade ainda é uma questão à parte da sociedade, pois participam apenas vítimas ou parentes de vítimas. “Infelizmente, as pessoas ainda não lutam por amor, a maioria só se junta a nós pela dor”.
Edição: Graça Adjuto
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