Gilberto Costa*
Correspondente da Agência Brasil/EBC
Lisboa – Os protestos que ocorrem no Brasil há cerca de duas semanas estimulam a mobilização de trabalhadores portugueses, que hoje (27) fizeram uma greve geral em todo o país. A avaliação é de Armênio Carlos, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), a maior central sindical do país e principal responsável pela paralisação.
“O que se passa no Brasil nos dá mais ânimo, nos dá mais incentivo e também foi um fator mobilizador para a greve geral que hoje realizamos”, disse o sindicalista à Agência Brasil. Segundo ele, as mobilizações políticas podem ter um “contágio positivo” de um país para outro.
“Tudo se cruza. Todos [no Brasil e em Portugal] estão lutando por questões sociais e direitos sociais”, disse a manifestante Elsa Ferreira, animadora sociocultural, que está desempregada e grávida. Ela era uma das milhares de pessoas que se concentraram em frente à Assembleia da República para protestar contra a política de austeridade fiscal e contra o governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Já para a enfermeira Isa Girão, que também seguia a manifestação em frente ao Parlamento português, os protestos nos dois países “têm razões distintas”. Segundo ela, em Portugal é preciso que haja mobilizações e vigilância quanto ao pacote de medidas que o governo encaminhará até 15 de julho (recesso legislativo) para aumentar a jornada de trabalho no serviço público (de 35 horas para 40 horas) e para convergir os sistemas público e privado de aposentadoria.
Armênio Carlos garante que os portugueses estão atentos quanto ao pacote. “Se o governo continuar a avançar com essas medidas para continuar a reduzir a despesa social [na segurança social, na saúde e na educação], vai ter que se confrontar com a mobilização dos trabalhadores”, alertou.
O dirigente sindical da CGTP não informou números da adesão da greve. Conforme a emissora pública Rádio e Televisão de Portugal (RTP), a adesão foi mais forte entre funcionários das empresas estatais e dos serviços públicos do que entre os das empresas privadas. Os setores mais afetados foram transportes, saúde, finanças (atendimento ao contribuinte) e coleta de lixo. Entre as empresas privadas, a produção de 600 carros ao dia parou na fábrica da Volkswagen (Autoeuropa) no distrito de Palmela, no Centro-Sul do país.
Conforme Carlos Silva, secretário-geral da União Geral dos Trabalhadores (UGT), a segunda central sindical de Portugal, mais de 50% da base (cerca de 250 mil trabalhadores) aderiram a greve. Esta foi a primeira greve geral que a UGT participa contra o governo de Pedro Passos Coelho. Segundo Silva, “a política de consolidação orçamentária [do governo] esqueceu dos compromissos sociais”. Em sua opinião, “a prioridade deveria ser tratar da fome, da miséria e da desigualdade, e depois "pagar as contas”.
A recente melhoria nas contas públicas (como superávit fiscal no mês de maio) tem sido comemorada pelo governo de Passos Coelho, que pretende terminar o ajuste econômico até junho de 2014, sem precisar de um novo empréstimo. O governo voltou a criticar a greve geral. O ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Guedes, disse que a paralisação “é um direito protegido”, mas “o país precisa de quem trabalha”.
Não houve registro de grandes incidentes durante a greve. A polícia teve que intervir em alguns piquetes e foi chamada para retirar no final do dia cerca de 150 manifestantes que tentaram fechar a ponte 25 de Abril (sobre o Rio Tejo), que faz a ligação entre Lisboa e a região do Alentejo.
*Com informações da RTP
Edição: Carolina Pimentel
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