Manifestação contra corrupção e pela reforma política é dispersada pela Polícia Militar do DF

27/06/2013 - 1h19

Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Os manifestantes reunidos em frente ao Congresso Nacional, que protestavam contra a corrupção e pela reforma política, foram dispersados pelos policiais militares que usaram bomba de gás lacrimogêneo. O ato começou por volta das 16h dessa quarta-feira (26), com uma passeata que saiu do Museu da República e percorreu toda a Esplanada dos Ministérios.

Os participantes também criticavam os gastos com a Copa do Mundo e pediam o arquivamento do Projeto de Decreto Legislativo 234/11, conhecido como da “cura gay”, aprovado em votação simbólica pela Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara, presidida pelo deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP). O projeto suprime trechos de resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que proíbe os profissionais da área de tratar a homossexualidade como doença. A proposta ainda precisa ser votada pelas comissões de Seguridade Social e de Constituição e Justiça.

Apesar do clima pacífico, por volta das 21h20 a PM começou a dispersar os manifestantes jogando bombas de gás, o que deu início a uma correria no gramado em frente ao Congresso. Os carros do Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam) avançaram em direção às pessoas, estabelecendo um confronto. Pelo menos 20 manifestantes foram detidos. O sargento Damião Quezado, da Assessoria de Comunicação da PM, informou que a ação da polícia foi em consequência dos rojões lançados por um grupo de manifestantes na direção dos policiais militares.

Os estudantes Ernando Vieira e Laís Ribeiro reclamaram da ação dos policiais. Eles disseram à Agência Brasil que a polícia fez um cordão para que todos os manifestantes fossem atingidos pelos efeitos do gás. "Fecharam a gente. Um policial me disse: quer vir à manifestação, então aguenta", disse Ernando Vieira.

A Polícia Militar informou que foram apreendidos diversos artefatos ao longo do dia. Entre eles bombas artesanais, facas, socos-ingleses e um cassetete. Até as 22h30, foram feitas seis prisões. Com a dispersão deteerminada pela polícia, parte dos manifestantes saiu em grupos passando pelo Setor Hoteleiro, pelo Eixo Monumental, gritando palavras de ordem. Houve confusão, e mais de 10 pessoas foram detidas em frente ao Shopping Pátio Brasil, localizado no início da Avenida W3 Sul.

Os manifestantes concentraram os protestos pedindo a reforma política e a saída de Renan Calheiros (PMDB-AL) do cargo de presidente do Senado,  e de Marco Feliciano, da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Para Rubem Camargo, de 29 anos de idade, a mobilização está sendo fundamental para mudar a postura do Congresso e da presidenta Dilma Rousseff. “Em um momento como este, a presidenta não tem outra solução a não ser falar coisas agradáveis aos ouvidos dos brasileiros. Se a gente não tivesse ido às ruas, a PEC 37 não teria sido barrada. Agora que o povo foi às ruas, eles estão querendo dar uma de bonzinhos. Ainda vamos ver muitos discursos a favor do povo, mas é por causa da pressão”.

Diferentemente de manifestações anteriores, em que houve hostilização a partidos políticos e movimentos sociais, desta vez integrantes de sindicatos e entidades estudantis se juntaram ao protesto. Para o antropólogo Marcello Pedroso, a hostilização aos movimentos organizados pode ser explicada como uma canalização da indignação da população. "Você tem uma indignação generalizada e as pessoas não sabem dar um nome concreto e acabam atribuindo ao partido e ao governo. Elas não atentam que existe partidos sérios que defendem as pautas que estão aqui", avaliou. "Acho compreensível a reação das pessoas, mas ao mesmo tempo tem um componente de risco, elas podem ser cooptadas por certo comportamento facista. A mesma coisa ocorreu na Alemanha", completou.

O estudante de biomedicina, Reginaldo Lima, que acredita que é um bom momento para se debater os temas apontados nas manifestações. "É importante, todos têm que estar presentes, pois este é um momento de discussão e de se construir algo diferente". Os dois concordam que o momento de manifestações é benéfico para a democracia brasileira, mas acreditam que apesar da política ter virado um tema recorrente nas conversas, os brasileiros ainda têm muito a aprender. "O brasileiro politizado ainda é uma criança, hoje tem muita gente falando sobre política, mas ainda de maneira muito rasteira", disse Lima.

 

Edição: Aécio Amado

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