Douglas Corrêa
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As três tropas de elite da Polícia Militar (PM) e a Força Nacional de Segurança (FNS) deixaram agora à noite a favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte da capital fluminense, que estava ocupada desde a noite passada (24), após a morte de dois moradores e de um sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
A ação teve início depois que um grupo de viciados em crack tentou fechar a pista lateral da Avenida Brasil saquear motoristas de carros de passeio, na entrada da favela. Eles aproveitaram um protesto pacífico que vinha ocorrendo na pista na direção contrária, na altura de Bonsucesso, acompanhada de perto pela Polícia Militar, quando começou a tentativa de saques e furtos contra os motoristas que passavam em frente à comunidade Nova Holanda. Os viciados em droga correram para dentro da favela e a Polícia Militar foi acionada.
Houve confronto com os traficantes de drogas e, na operação, dois moradores e o sargento do Bope Ednelson Jerônimo dos Santos Silva, 42 anos, morreram no confronto com os traficantes, que estavam armados com armas pesadas. A ação teve apoio do Batalhão de Choque, do Batalhão de Ações com Cães (Bac) e, do lado de fora da comunidade, atuou a Força Nacional de Segurança (FNS), que está no Rio para reforçar o efetivo policial na Copa das Confederações e foi deslocada para a região da Maré.
Nos vários confrontos que aconteceram, nove pessoas morreram, sendo dois moradores, o sargento do Bope, além de seis pessoas com envolvimento no tráfico de drogas na comunidade, de acordo com a PM. Nove pessoas foram presas e um menor apreendido. De acordo com balanço da PM, um fuzil, uma submetralhadora, cinco pistolas automáticas, uma granada defensiva de uso exclusivo das Forças Armadas, além de 2.327 trouxinhas de maconha foram apreendidos na ação.
Com a operação montada pela Polícia Militar na favela, oito escolas da rede municipal de ensino e uma da rede estadual suspenderam as aulas hoje (25), prejudicando mais de 7 mil alunos. Creches e três postos de saúde também ficaram fechados, por medida de segurança, devido aos intensos tiroteios.
A favela Nova Holanda e o Parque Maré estão sem luz agora à noite. A concessionária de energia Light, que atende a região já foi avisada, mas seus funcionários só vão fazer o serviço quando tiverem garantia da polícia que a situação está sob controle nas duas comunidades. Os moradores da favela Nova Holanda estão em vigília na Rua Teixeira Ribeiro, em frente à sede do Observatório de Favelas, onde vão permanecer durante toda a noite e madrugada para dar proteção aos moradores em caso de retorno da Polícia Militar. As comunidades estão sem luz a 24 horas e somente pela manhã é que a energia será restabelecida, durante o dia.
De acordo com o representante da ONG, Jailson de Souza e Silva, a polícia promoveu um verdadeiro massacre na comunidade. Segundo ele, a ação da PM ocorreu após usuários de crack aproveitarem a manifestação na Avenida Brasil para furtar motoristas que passavam pela Avenida Brasil. Os viciados em crack correram para dentro da favela na noite passada e o Bope entrou, resultando na morte do sargento da corporação e de dois moradores.
"As outras seis mortes ocorreram a partir da vingança da polícia. Eu atribuo essa ação ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame e ao governador Sérgio Cabral, que não impediram essa operação. Qual foi o ponto positivo disso? Qual o resultado disso, a não ser violência", indagou.
Para dar proteção aos motoristas que passam pela Avenida Brasil, a Polícia Militar está com cerca de 100 homens na entrada da comunidade Nova Holanda para evitar que manifestantes fechem a principal via de ligação do centro com as zonas norte e oeste da cidade e promovam saques e depredações.
Edição: Fábio Massalli
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