Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Um dos principais produtos vendidos pelo Brasil no exterior, a carne bovina, que coloca o país no topo mundial dos fornecedores desse alimento, pode ser afetada pelo gradativo aumento da presença de dióxido de carbono na atmosfera. Os primeiros resultados de um estudo que faz parte do projeto Climapest da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre o impacto do efeito estufa na agricultura apontam para modificações na qualidade da pastagem do gado.
O estudo será apresentado no encontro sobre o impacto do efeito estufa Greenhouse Gases & Animal Agriculture Conference, que começa hoje (23) e vai até o dia 26 de junho, em Dublin, na Irlanda.
Com base na quantidade presumível de dióxido de carbono no meio ambiente daqui a 30 anos, pesquisadores brasileiros do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP) criaram um ambiente com alto teor desse gás e constataram que, nessas condições, a gramínea brachiaria, mais utilizada na alimentação do gado no país, cresce com mais força, porém, com menos nutrientes.
“Com mais fibras indigeríveis, em vez de se ter mais produção de carne – porque o boi vai ter mais pasto para comer, nós poderemos ter um problema porque a queda na qualidade dessa comida levará o pecuarista a ter de investir mais”, ponderou o coordenador da pesquisa, Adibe Luiz Abdalla, professor do Cena.
Os trabalhos foram desenvolvidos em um campo experimental da Embrapa, em Jaguariúna, na região de Campinas, a cerca de 125 quilômetros da capital paulista. Nesse local foi criado um ambiente que se prevê como realidade no ano de 2040. Nele foram instalados 12 círculos de 10 metros quadrados nos quais foi injetado dióxido de carbono que ampliou a quantidade encontrada atualmente na atmosfera de algo em torno de 370 a 390 para cerca de 590 a 600 partes por milhão (ppm).
O gás carbônico tem o papel de auxiliar no desenvolvimento das plantas por meio da fotossíntese. O professor Adibe estima que com mais fotossíntese haverá um aumento da biomassa. “Esse aumento da produção de biomassa no caso de forragens é interessante porque vai produzir mais e mais capim, só que esse capim pelas informações que a gente está obtendo até agora é de pior qualidade, tem mais fibra, mais componentes indigeríveis”, explicou ele.
Isso poderia comprometer, igualmente, supõe o pesquisador, outras culturas como as de algodão, arroz, feijão, milho e trigo. Mas, segundo ele, ainda não se sabe ao certo o real impacto do efeito estufa sobre essas culturas.
Edição: Beto Coura
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