Flávia Villela
Repórter Agência Brasil
Rio de Janeiro – As manifestações espalhadas pelo país são a representação do mundo digital. Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Luiz Antonio Joia, que estuda o fenômeno da e-participação (ação política pela rede social), o fenômeno dos protestos brasileiros é algo inédito no país, graças à internet e às redes sociais.
“Esse movimento é a cara da web. Ele é anárquico, sem dono e impessoal, que se autorregula e suporta qualquer coisa. É a transposição da World Wide Web [o sistema da internet] para o mundo real. É surpreendente e imprevisível”, ponderou ele.
O professor defende que a rede mudou a concepção de tempo e de espaço das pessoas e as relações sociais, tornando-se um ator no processo de reivindicações. “Você passa a saber tudo o que acontece em tempo real, o que faz com que as pessoas se engajem numa velocidade absurda. A tecnologia não gera o fenômeno, ela o amplifica”, comentou. Ele lembrou do movimento Diretas Já, que demorou cerca de um mês para ser organizado, enquanto o movimento atual, com o que chama de “boca a boca digital”, levou dias para ser orquestrado.
A internet permitiu que vários fatores, como o aumento de preço do ônibus, os gastos do país com a Copa das Confederações, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37 (que retira poderes de investigação do Ministério Público) e o Projeto da “Cura Gay”, contribuíssem para a união de grupos insatisfeitos com questões diferentes e que hoje saem as ruas. “Os R$ 0,20 foram apenas o que disparou o gatilho, tudo isso mediado pela tecnologia da informação e da comunicação”, explicou.
Se, por um lado, a característica anárquica dos movimentos é surpreendente, a falta de liderança e de pauta do movimento criam uma questão complexa, segundo o professor. “Você pode ter na mesma passeata duas pessoas lutando por coisas totalmente opostas. Diferentemente da Primavera Árabe e de movimentos na Europa, no Brasil não há uma pauta”, lembrou.
De acordo com o pesquisador, esse cenário pode apresentar risco para o movimento. “O perigo da falta de foco é que oportunistas e partidos políticos podem apropriar-se desse movimento. É importante que as pessoas digam o que querem e, sobretudo, como querem, como implantar esse projeto”.
Como acadêmico, Joia se diz entusiasmado com os recentes acontecimentos. “Não dá para prever o que vai acontecer, pode não dar em nada, mas deixará uma semente. São sinais que devemos acompanhar e depois tirar lições que sirvam para nossos alunos e para a sociedade”.
Edição: Davi Oliveira
Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir o material é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil
Professor destaca papel das redes sociais na convocação de protestos
Manifestantes se reúnem para novo protesto em Brasília
Redes sociais são usadas em proporções similares por todas as classes, segundo pesquisa
PM e Força Nacional montam barreiras para impedir acesso de manifestantes ao Maracanã
Manifestantes se reúnem na Candelária para novo protesto no Rio
Pelo menos seis capitais têm manifestações marcadas para hoje