Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A capital paulista deverá presenciar o quinto ato contra o aumento da passagem do transporte público. Liderado pelo Movimento Passe Livre, o mais novo protesto está previsto para o final da tarde de segunda-feira (17), no Largo do Batata. As manifestações têm atraído diversos perfis de pessoas – estudantes, idosos, taxistas, militantes, políticos e até curiosos com toda a movimentação. A Agência Brasil conversou com alguns manifestantes. Em comum, além de protestarem contra o reajuste das tarifas, alguns demonstraram um certo inconformismo com a política.
Havia quem estava participando do protesto pela primeira vez. Foi o caso das geográfas Ana Grizotto, 28 anos, e Vania Pupo, 27 anos, que aproveitaram para criticar a falta de moradia popular. “Viemos pela primeira vez para aderir ao movimento. Apoiamos o movimento e achamos um absurdo [o aumento]. Isso [o reajuste] afeta diretamente o bolso: R$ 3 já é caro e o serviço é péssimo; R$ 3,20 é um roubo”, reclamou Ana. Para ambas, os atos de vandalismo, como a pichação ou a depredação de locais públicos, “são atos isolados”. “O próprio governo faz vandalismo permitindo a especulação imobiliária e destruindo moradias populares por conta disso”, justificou Ana.
Alguns preferiram distribuir flores pelo caminho. Como foi o caso de Luciana Pereira, 27 anos, que trabalha com administração e já participa de protestos desde 2011, organizados pelo movimento. "Apoio totalmente eles [o Movimento Passe Livre]. Eles são pacíficos. Somente organizam [os atos] e chamam as pessoas, de forma horizontal. Infelizmente, por ser horizontal e ser apartidário, isso atrai todo mundo. A gente não tem como afastar as pessoas da manifestação. Somos todos juntos e, entre 10 mil pessoas, tem dez pessoas que começam a pichar. Mas de alguma maneira, os policiais iniciam a briga. Foi o que aconteceu no Terminal Dom Pedro II [no protesto anterior]”, disse. Luciana segurava um maço de flores amarelas, com o miolo esverdeado. “Representam o Brasil”, explicou.
Já o aposentado e ex-sindicalista, Antonio Lauriano de Oliveira, 71 anos, ex-sindicalista, decidiu dar uma "espiadinha" na manifestação dessa quinta-feira (13). “Estou aqui só para apreciar o movimento. Sou a favor [do protesto]. Uma coisa que fica desagradável para nós é ver essa desordem que teve e a destruição do nosso patrimônio. Mas só. Sou favorável ao protesto”. Ele contou que o aumento da passagem não afeta diretamente seu bolso, já que é aposentado e não paga tarifa, mas afeta os gastos da filha e sobrinhas. “Prejudica muito. Aumento de salário ninguém teve até agora. Sempre prometem melhorar o transporte e de fazer melhorias, mas nada se faz”, disse.
Aos gritos de “Se a tarifa não baixar, olê, olé, olá, São Paulo vai parar”, “Ô motorista, ô cobrador, me diz aí se seu salário aumentou” e “A rua é nossa”, o ato de ontem teve início no Theatro Municipal, no centro da capital. E atraiu também algumas figuras políticas, tais como os deputados estaduais Major Olímpio (PDT) e Carlos Giannazi (PSOL), além de Plínio de Arruda Sampaio (candidato à Presidência da República nas últimas eleições), que foi bastante aplaudido ao parar um ônibus que circulava em uma rua ao lado do teatro. “É um absurdo que esteja havendo repressão [policial]. [A violência nos protestos] é de um pequeno grupo de anarquistas [entre os manifestantes] e não está certo isso”, disse Plínio.
Erick Bouzano, do Diretório Municipal da Juventude do PT, também apoiou o protesto. “A nossa perspectiva de apoio às manifestações é parte de nosso histórico contra o aumento da passagem. A gente acredita na perspectiva de uma nova política de transporte tanto para a cidade quanto para o estado de São Paulo”, disse. Perguntado se não poderia haver uma contradição, já que o prefeito da capital é do mesmo partido que o seu, Bouzano respondeu que apoia o governo e que é natural haver discordâncias dentro do partido.
“Não estamos aqui contra o governo. Estamos aqui para tentarmos fazer esse debate junto com a sociedade e uma nova lógica de transporte, com fortalecimento do transporte público”.
Usando uma máscara do personagem do quadrinho V de Vingança e segurando uma faixa onde se lia "Violento é o Estado", um rapaz que se identificou apenas como “aliado anônimo” disse estar sempre acompanhando os protestos. “Faço parte do movimento, tanto do grupo de internet Anonymous quanto da revolução pela qual a gente está lutando. É muita roubalheira no nosso país e isso não pode ficar impune”, disse. “As pessoas acham que estamos brigando por causa dos R$ 0,20 do aumento da passagem. Não é por causa disso. Estamos brigando por muitas coisas como a corrupção que há no nosso país. O reajuste foi só o começo”, acrescentou. O mascarado justificou os atos violentos de manifestantes. “A repressão é necessária para a revolução”, disse.
Do Theatro Municipal, os manifestantes seguiram, em caminhada, pela Rua Itapetininga, até chegarem à Praça da República. De lá, passaram pela Rua Ipiranga, com destino à Rua da Consolação. A maioria dos comerciantes locais ia fechando as portas. Foi na Ipiranga que encontramos o taxista Valmir dos Santos Oliveira, impedido de trafegar por causa da passagem dos manifestantes. “Estou aqui aguardando eles reivindicarem, o que é de direito deles. Até o mais leigo sabe que esse reajuste é um ato ilegal, é um roubo o que estão fazendo com a condução”. Perguntado se a manifestação não estava atrapalhando o trabalho, ele respondeu: “Sou brasileiro. Estou de acordo [com os manifestantes]. E violento, é o que estão fazendo com a tarifa”.
Os confrontos com a polícia começaram na Consolação, sentido Avenida Paulista. Os policiais usaram bombas de gás e balas de borracha para impedir que o protesto seguisse pela rua. Toda a ação policial foi relatada por Ricardo, editor de vídeo. “A gente estava cantando e subindo a Consolação. Tinha uma barreira de PMs [policiais militares] que estava impedindo a gente de subir. Eu estava bem na frente, perto da barreira, e começou a gritaria atrás de mim e muita gente correndo. Os PMs começaram a empurrar as pessoas com os escudos. E, quando começaram a fazer isso, os mais esquentadinhos começaram a responder com pedras e xingamentos. Começou então o tiroteio, as bombas. As pessoas foram então se dispersando”, narrou Ricardo à Agência Brasil. “A gente não começou com violência. Estávamos apenas cantando e gritando. É assustador”.
As manifestações são lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL). Em nota publicada em seu site, a organização diz não ser a única envolvida nos atos e na luta contra o reajuste. O MPL se define como um movimento social independente, horizontal e apartidário “que luta por um modelo de transporte verdadeiramente público”. Diz não ter lideranças e controle sobre os grupos que também participam dos protestos.
“Esta luta tem sido uma luta ampla, com grande adesão da população e outras organizações políticas – por isso mesmo não temos controle total das manifestações e nem dos grupos envolvidos. O MPL é um movimento social independente e apartidário que luta por um modelo de transporte verdadeiramente público. Há partidos políticos participando das manifestações contra o aumento, mas, ao contrário do que foi publicado em alguns veículos de imprensa, os partidos não fazem parte do MPL. O MPL é um movimento nacional, autônomo e horizontal – não há líderes e todas as deliberações são tomadas coletivamente”, diz a nota.
Durante o protesto, a Agência Brasil não conseguiu falar com os porta-vozes do movimento. Alguns manifestantes também evitaram conceder entrevistas, reclamando que a imagem deles, apresentada pela imprensa, era negativa.
Edição: Carolina Pimentel
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