Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Existe profissão de homem e de mulher? A maioria dos estudantes do 3º ano das escolas públicas da cidade de São Paulo respondeu que sim. O resultado faz parte de um trabalho feito pela organização Ação Educativa com cerca de 500 alunos, em que 80% deles responderam afirmativamente à questão, mostrando que os valores de gênero norteiam as escolhas profissionais dos jovens.
A assessora do Programa Juventude da Ação Educativa, Raquel Souza, que faz parte do projeto, diz que os motivos das respostas variam. Alguns estudantes acham que mulheres têm características que favorecem o desempenho delas em profissões de cuidado, já os homens estariam mais aptos ao raciocínio e a atividades que demandam vigor físico. Outra justificativa é a autoridade que exigem carreiras como engenharia civil. Alguns dos estudantes disseram que uma mulher engenheira não seria obedecida pela maioria dos empregados, que é de homens.
"Mesmo que as coisas tenham mudado muito nas relações de gênero e mesmo que as mulheres ocupem posições de poder, ainda há um estereótipo em relação a qual lugar as mulheres deveriam ou estariam mais aptas a ocupar", diz Raquel.
Outra questão observada pela assessora é a de que as profissões "femininas" têm menos prestígio que as "masculinas". Ela utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) para mostrar que, em dez anos, a quantidade de mulheres em profissões como as engenharias e a computação aumentou, mas o número de homens pedagogos ou assistentes sociais, não. "Isso porque as carreiras e as profissões historicamente dedicadas aos homens se abriram para as mulheres, mas as carreiras das mulheres continuam desacreditadas e desvalorizadas. Para os homens, dedicar-se a essas carreiras significa perder poder e perder recursos", explica.
Mesmo dentro das profissões, os cargos com maior remuneração são ocupados majoritariamente pelos homens. Além disso, há a distinção racial. Os dados apresentados por Raquel mostram que 81% dos professores são mulheres. Desses, nos anos iniciais da educação básica, etapa com menor remuneração, das professoras brancas, 73% lecionam nessa etapa. Das professoras negras, 84,2%. Já no ensino médio e superior, etapas com maior remuneração, cerca de 70% dos professores brancos e negros lecionam nelas.
Os dados foram apresentados hoje (6) no 1º Seminário Nacional de Políticas para Jovens Mulheres. O seminário reúne gestoras dos estados e municípios e representantes de movimentos sociais com o objetivo de discutir a implementação de políticas voltadas para mulheres de 15 a 29 anos.
Para a coordenadora da Diversidade da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Lurdinha Rodrigues, o desafio da educação é apenas um que as mulheres dessa faixa etária no Brasil enfrentam. "Há uma preocupação no enfrentamento à violência, no fortalecimento das mulheres na educação, no mercado de trabalho, na inserção em carreiras, inserção em renda, no trabalho, no emprego, além de questões na saúde que envolvem direitos sexuais e de gênero", diz.
A secretária adjunta da Secretaria Nacional da Juventude da Presidência da República, Ângela Guimarães, explica que a ação do governo tem sido a de fazer "inserções" nas políticas públicas existentes para que elas atendam ao público específico das mulheres jovens. "Temos um largo conjunto de políticas sociais que tanto atendem aos jovens em geral, que não dão conta da especificidade de gênero, quanto atendem às mulheres em geral, que não dão conta da especificidade geracional", diz, "A gente tem feito inserções nas políticas existentes".
Edição: Fábio Massalli
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